segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Centro e periferia: a pichação e a cidade, em filme e debate

Nesta quinta-feira, dia 1º de dezembro - dois dias antes da última sessão do Ciência em Foco de 2011 - teremos uma sessão de filme com debate na Casa da Ciência da UFRJ, realizada em conjunto com a LCP Produção. A partir das 17h, terá início a exibição do documentário independente Luz, câmera, pichação (2011), uma produção recente que trata da pouco compreendida cultura de rua da pichação no Rio de Janeiro.

Aproximando-se do universo dos pichadores, acompanhando as narrativas e desafios destes anônimos da juventude urbana, o filme busca enriquecer a compreensão sobre o fenômeno da pichação, afastando-se do reducionismo das visões externas para lançar uma reflexão sobre a própria sociedade.

Após o filme, haverá debate com os realizadores Gustavo Coelho, Marcelo Guerra e Bruno Caetano. O filme foi exibido recentemente na Mostra Internacional do Filme Etnográfico, e também premiado pelo Centro Nacional de Folcore e Cultura Popular. Programe-se! Nesta quinta-feira, dia 1º de dezembro, às 17h. A entrada é franca.

Exibição e Debate: Luz, Câmera, Pichação!



sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Mistérios da objetividade


"Ao mesmo tempo em que subjetivamente se 'erra' (se vaga) pelos espaços em busca de algo, também se erra objetivamente, ou seja, os 'objetos' do pensamento nos escapam" .

Paulo Domenech Oneto - Doutor em Filosofia pela Universidade de Nice, França e Literatura Comparada pela Universidade da Georgia, EUA. Professor da ECO/UFRJ e palestrante do Ciência em Foco de 3 de dezembro.


1) Como começou a sua relação com o cinema?

Embora minha formação original seja em Economia (como Antonioni, aliás) - e somente depois eu tenha ido parar na filosofia, na literatura e na comunicação -, me tornei cinéfilo ainda muito jovem. Em meus tempos de faculdade, costumava inclusive matar as aulas chatas para ir ao cinema. Até uns 13-14 anos, via mais cinema narrativo ou de ação (escola norte-americana), mas logo fui experimentando outras coisas que exigiam mais reflexão e menos resposta rápida. Lembro em particular do relançamento de Encouraçado Potemkim, do Eisenstein, nos anos pós-abertura política (1980-81). Fiquei entusiasmado e tentei ver no então teatro Delfim uma mostra do cineasta, que acabou censurada. Foi nessa época que descobri o neo-realismo italiano, Antonioni (um belíssimo filme intitulado O Mistério de Oberwald em estreia), nouvelle vague, cinema novo etc.

2) Diversos filmes de Antonioni são notáveis por suas formas de provocação à objetividade, desconfiando dos nexos lógicos entre nosso pensamento, nossa observação e o mundo. Fotógrafos e repórteres - alguns dos personagens de seus filmes - são profissionais que evocam um certo olhar objetivo, exigido também pela ciência. De que modo a filosofia lida com este olhar, e como podemos pensar esta desconfiança?

Veja só: o Antonioni foi o 'meu primeiro cineasta favorito' (há sempre muitos favoritos) justamente por conta dessa questão. Me impressionavam muito os espaços abertos dos filmes do Antonioni, sempre contrastando com o enclausuramento psicológico dos personagens, que parecem procurar uma saída 'errando' naqueles ambientes. Ao meu ver, esta errância vai de par com a questão da objetividade que você levanta. E isto abre uma forte possibilidade de diálogo entre o cinema do Antonioni e a filosofia. Como assim? Ora, ao mesmo tempo em que subjetivamente se 'erra' (se vaga) pelos espaços em busca de algo, também se erra objetivamente, ou seja, os 'objetos' do pensamento nos escapam. Monta-se, então, uma crítica da objetividade como algo dado. É como se esta só pudesse se construir subjetivamente, movida pelo desejo de quem olha, examina, perscruta. Daí, por exemplo, o célebre final de Blow Up, que me marcou profundamente. O fotógrafo blasé da swinging London dos anos 1960 passa a 'ver' o jogo de tênis imaginário da trupe quando para de errar (no sentido de vagar). Ou então continua a errar, mas de outro modo...

3) Visto que nossa sociedade é cada vez mais marcada pela visualidade e pelo consumo de imagens, confundindo espectadores e produtores, como situar uma dimensão ética do olhar, ativada pelo personagem repórter de Jack Nicholson, em Profissão: repórter, que poderia ser estendida à nossa vida e à forma como nos relacionamos com o mundo?

Suas perguntas são bem difíceis, mas por isso mesmo interessantes. De fato, acho que um dos modos pelos quais podemos encarar nossa sociedade é como 'sociedade do espetáculo', à maneira de Guy Debord. As imagens parecem mediar todas as relações. E aqui mais uma vez vejo a importância decisiva do cinema de Antonioni. Pois há nele, certamente, uma ética do olhar. Tomo o exemplo do personagem Locke (Nicholson) que você menciona, mas também no caso do fotógrafo de Blow Up. Trata-se de sugerir um outro tipo de olhar que permita não aderir cegamente às imagens e aos valores a elas atrelados. É um questionamento fundamental do cinema de Antonioni, que foi muito bem visto novamente pelo filósofo Deleuze: como se desprender dos valores que nos impedem de viver, de crer na vida? A reinvenção de si passa por aí e é isto que parece impossível no caso dos dois personagens, presos em imagens, esvaziados de desejo.

4) O filósofo Michel Foucault fez uma associação provocativa entre a figura do filósofo e a do jornalista. A filosofia teria se ocupado, por muito tempo, de questões relacionadas ao eterno, ignorando o hoje, o presente. No lugar do eterno, defendendo a atenção aos problemas da atualidade, a ocupação do filósofo estaria antes voltada a uma espécie de jornalismo radical. Como você percebe a tensão entre os objetivos do jornalismo e o olhar filosófico sobre o cotidiano e o presente, aproveitando a alusão ao jornalismo no filme de Antonioni?


Mais uma pergunta de prova... (rss). Pra te responder seria necessário estabelecer uma outra distinção, não apenas entre o 'eterno' e o presente, mas entre dois modos de encarar o que chamamos 'presente'. Se Foucault fala em 'jornalismo radical', talvez seja justamente porque o presente tratado jornalisticamente acabe muitas vezes no nível dos fatos como autoevidentes, raramente questionando seu próprio modo veloz e sensacional de abordagem ou a pretensa relevância das atualidades selecionadas. Para Foucault o essencial parece ser o presente como aquilo que estamos sempre deixando de ser. Existe certamente uma linhagem em filosofia que não vê o 'eterno' como o que não tem começo ou fim, mas sim como outras possibilidades não vislumbradas em tudo o que vemos como fato consumado. Forçando uma aproximação com o filme de Antonioni, é como a cena do carro em que a personagem olha para trás e vê o que está ficando pra trás.

5) Como conhecer mais de suas produções?

Meu email pra contato é pgdomenechoneto@gmail.com

Minha ideia é começar a publicar aos poucos [coisas de cinema] no meu site da Escola de Comunicação da UFRJ, que está em construção (http://www.filosofia.paulooneto.eco.ufrj.br/). Já é possível dar uma olhada em textos que apareceram em revistas. É só ir na coluna 'publicações'.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Um passado presente

"Mulheres são alvo de dominação, subjugadas por uma teocracia cristã fundamentalista". Poderia ser tema de ficção, como em O conto de Aia, mas é notícia em alguns jornais no dia de hoje, 24 de novembro de 2011. Aproveite a deixa para ouvir ao podcast da palestra sobre a literatura utópica/distópica de autoria feminina e questões de gênero, ciência e saúde enfatizadas pela ficção científica, com a participação da professora de literatura Lucia de La Rocque. O encontro aconteceu em julho desse ano.


Clique abaixo para ouvir a palestra Distopia onde a voz feminina não tem vez (49min.). Ou baixe aqui o arquivo zipado (45MB).




terça-feira, 22 de novembro de 2011

Dez anos de Araribóia Cine

Começa hoje a décima edição do festival Araribóia Cine, em Niterói. Para comemorar os dez anos, o tradicional festival da terra de Araribóia gira em torno do tema Raízes, com uma seleta programação que abordará questões relativas ao nosso legado cultural, cuja diversidade se projeta através dos igualmente diversos filmes e discussões, em mostras espalhadas pela cidade.

A sessão de abertura acontece na noite desta terça-feira, dia 22/11, às 20h30, com a pré-estreia do longa-metragem Sudoeste, de Eduardo Nunes. Além das mostras competitivas e das sessões programadas, acompanhadas de debates com os realizadores e pesquisadores, espetáculos musicais e de dança agitam o festival. Na quinta-feira, 24/11, haverá uma sessão vinculada ao Cineclube Sala Escura, com a exibição do longa Mr. Niteroi - A lírica bereta, seguida de debate com o diretor Ton Gadioli, o rapper Black Alien e a professora Adriana Facina, do Departamento de História da UFF.

No sábado, uma sessão de curtas será acompanhada de debate com os realizadores e o filósofo Charles Feitosa, nosso convidado do Ciência em Foco de março do ano passado. Encerrando o evento, haverá uma homenagem ao pesquisador Hernani Heffner, nosso convidado do Ciência em Foco de dezembro de 2009, que também escreveu o prefácio do nosso livro. A homenagem será complementada com um espetáculo musical.

Como podem notar, muita coisa interessante vai agitar o outro lado da ponte. Uma grande oportunidade para se assistir a uma produção diversificada, reverberando importantes temas que nos fazem pensar. Veja a programação completa no site do festival e programe-se. Acompanhe também o twitter @arariboia_cine. O X Festival Araribóia Cine acontece até domingo, 27/11. A entrada é franca.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

O ponto cego da razão


“Não olhamos o sol como no passado. Sabemos tudo a respeito dele. As noções científicas modificaram nossas relações com o sol – e falo do sol como poderia falar da lua, das estrelas, do universo inteiro”. A frase de Antonioni é uma pista para a compreensão de Profissão: repórter, a ser exibido no Ciência em Foco de 3 de dezembro. Na trama, um repórter americano é enviado à África para cobrir um acontecimento político, e acaba aproveitando a morte do vizinho de quarto para assumir outra identidade. Ao ser um mero observador de acontecimentos que se produzem sem sua participação, o repórter seria uma espécie de metáfora de nossa sociedade: coloca em evidência uma forma de relação com o mundo, racionalista, cientificista, sustentada por uma ideia de distanciamento. É nesse sentido que a palestra “A relação sujeito-objeto” será desenvolvida pelo doutor em filosofia Paulo Oneto, após o filme. Participe!


quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Outros olhares aos olhares do outro


Começa nesta quinta-feira, dia 16/11, a 15ª edição da Mostra Internacional do Filme Etnográfico, a tradicional mostra anual dedicada aos filmes voltados aos registros da antropologia visual, que permitem uma abertura do olhar à diversidade das culturas e às formas de se compreender a vida em sociedade.

Documentários nacionais e estrangeiros fazem parte da programação, que também conta com um Fórum de Antropologia e Cinema, com debates em torno de questões que movimentam a relação entre ambos os domínios e também os limites e tensões entre arte e ciência. Além do fórum, haverá o projeto educativo de oficinas Etnocine, sessões ao ar livre e também conversas com realizadores e antropólogos após sessões específicas.

As sessões acontecem no cinema e na sala de vídeo do Museu da República. Todas as atividades da mostra são gratuitas, com distribuição de senhas no local. O endereço é rua do Catete, 153, no Catete. O programa e o catálogo da mostra podem ser visualizados no blog oficial do evento, que também exibirá a sessão de abertura ao vivo.

E por falar nela, anote: a abertura acontece hoje à noite, dia 15/11, no Arte Sesc Flamengo (Rua Marquês de Abrantes, 99), às 19h, com exibição do filme O manuscrito perdido, de José Barahona, que percorre o caminho feito pelo poeta e aventureiro Fradique Mendes, ao sul de Salvador, em busca do manuscrito que ele teria deixado em sua fuga dos escravagistas brasileiros, no século XIX. No caminho, registram os contrastes atuais da sociedade brasileira e as questões que dialogam com a realidade de outrora.

A mostra vai até o dia 24 de novembro. Aproveite!

sábado, 12 de novembro de 2011

Retrospectiva Lars von Trier no Rio

Além de Michael Haneke, outro diretor polêmico que ganha uma retrospectiva completa no Rio de Janeiro é o dinamarquês Lars Von Trier, atualmente em cartaz na cidade com seu mais recente filme, Melancholia (2011). Começou no dia 10 e vai até o dia 25 de novembro, no Instituto Moreira Salles, a Retrospectiva Lars von Trier: o gênio do escândalo, cuja programação conta com a íntegra de sua obra, além de documentários sobre seus filmes.

Recentemente expulso do Festival de Cannes, no qual passou a ser considerado persona non grata devido a suas declarações, Lars von Trier possui uma obra multifacetada, que desafia o espectador com sua expressividade, ousadia e ironia, marcas que se destacam em meio a modos singulares de abordar questões morais e existenciais.

Serão exibidas verdadeiras raridades, como o angustiante Epidemic (1987), um de seus primeiros longas, e a série de tv Riget (1994), criada e co-dirigida por Trier. Conhecido por ter sido o criador e signatário, junto com Thomas Vinterberg, do manifesto Dogma 95 - que pregava controversas regras para realização de filmes, impondo restrições quanto a determinadas técnicas, a obrigatoriedade da câmera na mão, das filmagens em locações e de iluminação natural, por exemplo -, seu único filme associado ao movimento pode ser visto na mostra, o polêmico Os idiotas (Idioterne, 1998).

Veja a programação completa no site da mostra, assim como maiores informações sobre acesso e preço dos ingressos. O Instituto Moreira Salles do Rio de Janeiro (IMS-RJ) fica na Av. Marquês de São Vicente, 476, na Gávea.

Um lembrete: além do recente filme de Lars von Trier, está em cartaz no circuito carioca o último filme de Thomas Vinterberg, Submarino (2010). Uma boa oportunidade para se atualizar com as realizações mais recentes dos dois fundadores do Dogma 95, e também perceber de que modo cada um se afastou do movimento.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Os incômodos jogos de Michael Haneke




Você já deve ter visto ou ouvido falar do premiado filme A fita branca (Das weiße Band, 2009), vencedor de três prêmios no Festival de Cannes de 2009, incluindo a Palma de Ouro, e também indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro no ano passado. Tem curiosidade em conhecer outros filmes do diretor? Está aí a oportunidade perfeita. Começou esta semana na Caixa Cultural do Rio de Janeiro a mostra A imagem e o incômodo - o cinema de Michael Haneke, que segue até o dia 20 de novembro. O polêmico diretor austríaco contará com uma revisão completa de sua obra, incluindo filmes inéditos no país, como os seus primeiros filmes que compõem sua "Trilogia da frieza".

Ao longo de sua provocativa obra, Haneke não apenas nos coloca diante de imagens e situações incômodas que incitam o pensamento em torno de questões urgentes do mundo contemporâneo, mas também situa como problemático, neste mesmo movimento, o próprio lugar e o papel do espectador, passivo diante do horror e da crueldade que lhe são mostrados.

A mostra conta ainda com um curso gratuito, O cinema da amargura: Haneke e a visão do intolerável, ministrado por Tadeu Capistrano, curador da mostra e professor de teoria da imagem da EBA/UFRJ. Para os que acompanham o Ciência em Foco, Tadeu abriu nossas atividades deste ano, em fevereiro. Além dos filmes e do curso, haverá um ciclo de debates no qual pesquisadores e críticos exploram e aprofundam diversos aspectos da obra do cineasta, intitulado Ódio, injustiça e exceção: em torno de Michael Haneke. Nesta sexta-feira, às 20h, quem participa do ciclo é o convidado do Ciência em Foco do último sábado, Erick Felinto, e também o professor Adalberto Müller, que abordarão A vida absurda e a morte em vídeo.

Maiores detalhes sobre a mostra podem ser encontrados no site do evento, que conta também com diversos ensaios dos participantes do ciclo de debates. A Caixa Cultural fica na Av. Almirante Barroso, 25, no Centro.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Donnie Darko e o vínculo do cinema com a fantasmagoria

No último sábado, na sessão de novembro do Ciência em Foco, foi exibido o cultuado filme Donnie Darko (2001), de Richard Kelly. Quem esteve presente para conversar com o público após a exibição foi o professor Erick Felinto, do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da UERJ e diretor científico da ABCIBER (Associação Brasileira de Pesquisadores em Cibercultura). A associação do filme ao gênero fantástico, com seus elementos de ficção-científica e horror, ao mesmo tempo em que se apresenta como híbrido de outros diversos gêneros cinematográficos, serviu de ponto de partida para Erick analisar o cinema de gênero,  abrindo um bate-papo cinéfilo e descontraído com um olhar sobre diversos momentos da história do cinema.

Para o professor, Donnie Darko pode ser considerado de início um filme estranho, que aparenta ser um filme hollywoodiano enquanto, na verdade, parece deslocar a cada momento as convenções e nossas expectativas, gerando estranheza e perplexidade. As tentativas de se entender a narrativa tornam-se secundárias diante da experiência que o filme oferece em termos de sensações associadas ao universo do fantástico, que nos fazem pensar. Este universo do estranho, explorado pelo cinema de gênero, é geralmente desqualificado pela crítica quando o opõe à sofisticação e à alta cultura de um cinema de arte, por exemplo. O fato do filme também ter se tornado um cult movie, adorado pelos cinéfilos, é uma prova de sua indefinição, de seu lugar híbrido em meio ao ambiente cultural acostumado com as definições.

Apresentando tramas paralelas e enfatizando paradoxos, Donnie Darko é um filme que rejeita a noção de interpretação. O que gera, portanto, seu fascínio? De acordo com Erick, apoiado no teórico Hans Ulrich Gumbrecht, o interessante do filme seria a criação de determinados "climas", as chamadas ambiências, diante das quais o que importa é a evocação de situações que provocam diversas sensações. Este cinema de ambiências, responsável pela criação de memórias que marcam o espectador, dialoga com questões que animavam também artistas das vanguardas do início do século XX, como o surrealismo, aliadas à contemporânea estética do videoclipe. No entanto, o que de fato torna o filme tão fascinante é sua forma de se relacionar com a noção de fantasmagoria, a partir da enigmática figura do coelho.

De acordo com Erick, um fantasma não é nada mais que uma imagem, e este elemento ilusório, perturbador, é capaz de estabelecer um vínculo com aquilo que se encontra na gênese do próprio cinema. Toda a história do cinema, desde sua origem, é marcada pela relação com a fantasmagoria, uma vez que se trata de uma arte de produzir imagens, ilusões, fantasmas. Não é à toa que uma tecnologia precursora do cinema foi a "fantasmagoria", utilizada em espetáculos que projetavam sombras e efeitos ilusórios. Em seus primórdios, o cinema investiu na produção de fantasmas, efeitos, ilusões, como nos filmes de Georges Méliès e também com os filmes de horror do expressionismo alemão. Todos estes momentos marcam a relação histórica do cinema com aquilo que lhe é próprio, a dimensão da fantasmagoria e do imaginário, da qual a história mais tradicional do cinema tentou se afastar. Donnie Darko se apresenta como uma parábola da experiẽncia cinematográfica nesta dimensão fantasmagórica, resgatando aquilo que nos toca em níveis mais fundamentais da experiência.

Em nossa próxima sessão - a última de 2011 -, exibiremos o filme Profissão: repórter (The passenger - 1975), de Michelangelo Antonioni. Teremos a honra de receber, como nosso convidado do mês, o professor da Escola de Comunicação da UFRJ (ECO/UFRJ) Paulo Domenech Oneto, doutor em Filosofia pela Univ. de Nice, França, e em Literatura Comparada pela Univ. da Georgia, E.U.A., com a palestra A relação sujeito-objeto. Anotem na agenda, divulguem e sigam acompanhando o blog para maiores detalhes. Até lá!