segunda-feira, 24 de junho de 2013

O sagrado e o profano em Pasolini


No dia 6 de julho, o Ciência em Foco apresenta Medeia, de Pier Paolo Pasolini, seguido da palestra “Pasolini e a tragédia do homem ocidental”, com Alexandre Costa, doutor em Filosofia pela UFRJ e professor do Departamento de Filosofia da UFF.

Produzido em 1969, o filme tem a cantora lírica Maria Callas como Medeia, personagem da mitologia grega narrada por Eurípides, autor da tragédia de mesmo nome, representada em Atenas no ano de 431 a.C.

Medeia, sacerdotisa e princesa “bárbara” da Cólquida, apaixona-se pelo grego Jasão, que a desposa e com ela tem dois filhos. Ele a abandona para se casar com a filha de Creonte, princesa da cidade grega de Corinto. A vingança de Medeia transmuta sua paixão em ódio sem limites, conduzindo os personagens a um caminho sem volta.

A recriação da história no cinema por Pasolini guarda fidelidade ao mito; porém acentua-se a contraposição entre o pensamento mítico e o racional, entre o sagrado e o profano. De acordo com o professor Alexandre Costa, a versão de Pasolini para Medeia “mostra o seu toque pessoal ao sublinhar o confronto entre Medeia e Jasão como figuras pertencentes a dois mundos incompatíveis, realizando uma leitura literalmente histórica da peça. Ela representa um mundo arcaico e divino, marcado pelo mote ‘tudo é santo’; ele, o herói atual, pragmático, cerebral e dessacralizado – sua tragédia é a tragédia do homem contemporâneo”.

Professor, poeta e novelista, antes de se tornar famoso como cineasta, Pasolini realizou Medeia em 1969, com produção ítalo-francesa e alemã ocidental. Nasceu na cidade italiana de Bolonha, em 5 de março de 1922 e morreu assassinado no dia 2 de novembro, em Óstia (Itália), em circunstâncias até hoje pouco esclarecidas.
Esperamos por você nesse próximo encontro!

Buster Keaton e filosofia na sessão Cinerama

Nesta quarta, dia 26/06, o cineclube Cinerama da Escola de Comunicação da UFRJ (ECO/UFRJ) exibirá um dos clássicos da sétima arte,  o filme O homem das novidades (The cameraman - E.U.A.), dirigido por Buster Keaton e Edward Sedgwick em 1928.

Após a sessão haverá um bate-papo com o filósofo Alexandre Costa, também convidado da próxima sessão do Ciência em Foco (dia 6/7).

Segue uma pequena descrição do filme, retirada do catálogo de uma mostra passada sobre cinema e filosofia, da qual o convidado foi curador: "Parcialmente autobiográfica e absolutamente metalinguística, esta deliciosa obra-prima do diretor é cinema sobre o cinema, desfilando o paradigma estético que Keaton defendia para a arte cinematográfica: crítico de seus excessos e da sua instrumentalização, mas convicto do seu valor, o autor apresenta-nos à ideia de que a arte é o meio que encontra fim em si mesmo e cuja finalidade não deve ultrapassar o seu próprio fazer". 

A entrada é gratuita. Para quem não  sabe, as sessões do Cinerama acontecem no Auditório da CPM, na Escola de Comunicação/UFRJ, no Campus da Praia Vermelha, aqui do lado da Casa da Ciência, às 19 horas. Boa sessão!

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Cinemateca do MAM - Filmes toda semana



A Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM) tem como objetivo arquivar dentro de uma linha de evolução social, cultural, artística e tecnológico os seus filmes, documentários, registros e tudo aquilo que abrange a área audiovisual.

Como abrigar não é o suficiente, o MAM propõe as mostras mais variadas desses arquivos trazendo novamente ao convívio social as mais variadas expressões dos espetáculos cinematográficos.

Nessa segunda quinzena do mês de junho eles apresentam a mostra Metalinguagem e o cinema brasileiro, trazendo filmes clássicos como Ladrões de cinema (1977) do diretor Fernando Cony Campos e documentários como Mulheres de cinema (1976) da diretora Ana Maria Magalhães.

Vale ressaltar dentro da programação a sessão extra da Cinemateca, no dia 28/6, com exibição do filme Sumurun (1920) do diretor Ernst Lubitsch, que terá o acompanhamento de piano ao vivo do músico Cadu.

O MAM fica na Av. Infante Dom Henrique, 85, no Parque do Flamengo. A programação completa da Cinemateca pode ser vista no site http://mamrio.org.br/cinemateca/ .

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Mostra Geração Praça Moscou


O mês de junho no CCBB do Rio de Janeiro está dedicado ao cinema húngaro contemporâneo. A mostra Geração Praça Moscou, que começou ontem, terça-feira, dia 11/06, exibe o total de dezesseis filmes produzidos nos anos 2000, além de sessões com debates e presença de diretores.

Os filmes, em sua maioria inéditos no Brasil, apresentam o olhar do Leste Europeu sobre a geração pós-comunista. O filme Praça Moscou (Moszkva Tèr, 2001), do diretor Ferenc Török, que intitula a mostra, foi exibido no dia de abertura e será exibido novamente no sábado, dia 15/06.

A programação pode ser encontrada aqui. O CCBB do Rio fica na rua Primeira de Março, 66, no Centro. Não perca a oportunidade de conhecer melhor o que se passa no cinema húngaro!

quinta-feira, 6 de junho de 2013

A ciência nas fronteiras do humano



No último sábado aconteceu a sessão de junho do Ciência em Foco, que trouxe o documentário de Werner Herzog, O homem urso (Grizzly man - E.U.A., 2005), seguido da fala do professor de Antropologia da UnB, Guilherme Sá. Em sua fala, sugestivamente intitulada Se correr o bicho pega. Se ficar o bicho come, Guilherme abordou as práticas de naturalistas e pesquisadores da vida selvagem para pensar o acesso aos mundos não humanos que elas propiciam, fazendo-nos repensar tanto a ideia de objetividade, ligada à ciência, como também o papel do cientista diante destes encontros e relações. Partindo do filme, a relação estabelecida entre o homem e os ursos, cuja trajetória fora reconstituída por Herzog, forneceu o ponto de partida para uma discussão envolvendo as relações intersubjetivas entre humanos e animais, no contexto da pesquisa científica.

Para tratar das experiências compartilhadas entre humanos e não humanos em geral, Guilherme situou sua palestra na relação entre primatas e primatólogos, com os quais já havia realizado um trabalho de campo para uma pesquisa acadêmica na área de antropologia. Resgatando a experiência da primatóloga Jane Goodall, o professor chamou atenção para a dimensão perceptiva entre humanos e não humanos em um ambiente compartilhado, destacando as formas pelas quais animais e humanos buscam interagir e se fazer compreender uns aos outros. Neste tipo de abordagem, evita-se um olhar voltado a estudos cognitivos, preocupados em investigar de que forma os animais veem o mundo, para se concentrar na investigação das formas pelas quais animais percebem os naturalistas e com eles interagem. Embora estejamos lidando com um ambiente que apresenta diferenças entre corpos, tipos e naturezas, é possível entendê-lo como parte de uma só cultura.

Comentando a relevância, para a antropologia, das abordagens conhecidas como perspectivistas, Guilherme evocou o trabalho de antropólogos brasileiros dedicados aos grupos ameríndios, que incluem em suas abordagens os pontos de vista distintos de todos aqueles que habitam o mundo, sejam humanos ou não humanos. Relacionando algumas de suas elaborações à relação entre naturalistas e animais, Guilherme empreendeu uma analogia entre a relação que estabelecem o caçador e a presa - na perspectiva dos grupos ameríndios - e os naturalistas com os animais que seriam seus sujeitos-objetos. O objetivo seria pensar acerca do nosso próprio universo técnico-científico e suas formas de relação com a natureza. Guilherme nos lembrou do caso da primatóloga Diane Fossey, supostamente assassinada por caçadores de gorilas durante um trabalho de campo. De acordo com Guilherme, seus métodos de interação ativa com os animais, aproximados daqueles que vimos no filme de Herzog, se traduzia, para a comunidade científica, como uma atitude subversiva que desafiava as convenções e a objetividade da ciência. Mesmo assim, ela foi capaz de trazer importantes contribuições que não teriam sido obtidas de outra forma. No entanto, ao se tornar indiferenciada em relação aos animais, ela se tornou igualmente passível de ser caçada.

O exemplo de Fossey, assim como o que fora mostrado no filme, suscita uma reflexão a respeito do papel do cientista. No lugar do distanciamento requerido pela cientificidade, o cientista poderia ser compreendido a partir da figura do xamã, atuando como mediador no diálogo que envolve as diferentes espécies, uma vez que transitam nas dimensões das trocas de perspectivas e de apropriação do outro. Inversamente, a transformação do animal em um objeto purificado, com o qual a ciência poderá lidar, quando subtraído de suas relações e singularidades, pode ser considerada metaforicamente uma espécie de predação científica. A relação entre natureza e cultura poderia ser complexificada, ao se incluir no âmbito da cultura os discursos não apenas ligados à tradição humana, mas aqueles que se configuram na relação entre humanos e não humanos. A palestra se prolongou em um debate onde foram retomados alguns pontos da palestra, e comentadas algumas características e curiosidades acerca do campo conhecido como antropologia da ciência.

Para quem se interessou no tema, fiquem ligados em nossa página do Facebook. Vamos sortear dois exemplares do recém-lançado livro de Guilherme Sá, "No mesmo galho - antropologia de coletivos humanos e animais", cedidos pela editora 7Letras. Nossa próxima sessão acontecerá no dia 6 de julho. Vamos exibir mais um filme de Pier Paolo Pasolini: trata-se, desta vez, de Medeia (Medea - Itália/França/Alemanha Ocidental - 1969), baseado na tragédia de Eurípides. Teremos a honra e a alegria de receber, como convidado do mês, o filósofo Alexandre Costa, doutor em Filosofia pela UFRJ e pela Universität Osnabrück, Alemanha, e professor do Departamento de Filosofia da UFF. Ele apresentará a palestra Pasolini e a tragédia do homem ocidental. A entrada é franca. Seria ótimo contar com a ajuda de todos na divulgação. Fiquem ligados em nosso blog para maiores informações, e anotem na agenda. Até lá!