sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Não é sonho, é amanhã!

"Os sonhos parecem reais enquanto participamos deles, não é mesmo? Apenas quando acordamos nos damos conta de que algo estranho aconteceu." A frase é do personagem Cobb, interpretado por Leonardo Di Caprio em A origem (Inception - E.U.A., 2011), filme escrito e dirigido por Christopher Nolan.

De algum modo, a frase nos abre questionamentos em diversos níveis, assim como os níveis de sonhos mostrados no filme: em um nível, ela nos faz pensar sobre as fronteiras e delimitações entre o sonho e a realidade; em outro, questionamos os parâmetros que utilizamos para fundamentar nossa própria realidade, quando nos damos conta da naturalidade com que vivenciávamos a estranheza dos sonhos.

Neste sábado, não perca a oportunidade de assistir ao filme na sessão de setembro do Ciência em Foco, seguido de uma palestra e debate com o psicólogo Nelson Job, doutor e pós-doutorando em História das Ciências, Técnicas e Epistemologia pelo HCTE/UFRJ. Analisando questões do filme e também elementos da obra de Christopher Nolan, Nelson explorará o universo pop e onírico criado pelo diretor.

Caso ainda não tenha lido, uma entrevista com nosso convidado pode ser acessada aqui. Saiba mais sobre a filme e a sessão aqui.

Venha participar e divulgue! A entrada é franca.




segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Clássicos do Senegal no Cinemaison


Nesta segunda-feira, 27/08, o cinema do Senegal é destaque em sessão dupla no Cinemaison, cineclube ligado à embaixada da França no Rio de Janeiro. Serão exibidos dois clássicos filmes do país, inéditos no Brasil e representativos da importante contribuição senegalesa ao cenário do cinema africano. Ambos foram selecionados para o festival de Cannes em seus respectivos anos.

A primeira sessão se inicia às 18h com Hienas (Hyènes, 1992), do reverenciado diretor Djibril Diop Manbéti, que se vale da peça suíça A visita da velha senhora projetada sobre a história e a realidade senegalesa. Logo após, às 20h, o cineclube exibe o documentário Fad'Jal (1979), de Sofie Faye. Primeira realizadora da África subsaariana, Sofie filma em seu povoado natal e destaca, no documentário, as oposições entre a tradição e a modernidade.

Aproveite a segunda-feira para embarcar nesta rara oportunidade de conhecer melhor o cinema do Senegal, travando contato com potentes registros da expressividade cinematográfica africana. A entrada é gratuita e o cadastro pode ser feito no site do Cinemaison. As sessões acontecem na rua Presidente Antônio Carlos, 58, no Centro do Rio. Informações pelo telefone (21) 3974-6644. Boas sessões!

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

A realidade dos sonhos





"A palestra é acerca do sonhar ou vocês estão sonhando acerca de uma palestra?"


Nelson Job - pós-doutorando em História das Ciências, Técnicas e Epistemologia pelo HCTE/UFRJ, psicólogo, editor do blog Cosmos e Consciência e palestrante do cineclube Ciência em Foco de setembro.


1) O diretor inglês Christopher Nolan conquistou um espaço de destaque no cinema mundial, com filmes que são igualmente sucessos de bilheteria e de crítica, e que fazem o público pensar. Seu último filme - o fechamento da trilogia do Batman - rendeu discussões políticas extensamente comentadas até mesmo por filósofos como Slavoj Ẑiẑek. Sua trajetória e as características de seus filmes favorecem comparações frequentes com Alfred Hitchcock. De que forma podemos compreender esta recepção de suas obras, bem como sua relevância para a época atual?

De uma forma geral, os comentários acerca da obra de Nolan são tendenciosos. O último Batman foi acusado de ser um filme "de direita". Acredito que o diretor apenas encaixou os personagens onde as temáticas contemporâneas que ele quis abordar se expressaram melhor. Quando o Coringa queima a montanha de dinheiro no Batman anterior se conclamando "o agente do caos", infiro um sorriso de soslaio do diretor naquela cena. Se Nolan fizesse um filme com os personagens do universo mutante dos X-Men, talvez Wolverine ganhasse contornos "de esquerda". Mas tudo isso é apenas um comentário acerca de análises dialéticas e ideológicas (que eu tento não fazer) em relação aos filmes. Já a comparação com Hitchcock é precisa, tanto no que diz respeito à obra de ambos terem desenvoltura nos quesitos "cinema autoral" e "blockbuster", mas também porque eles trazem experiências sensórias ao espectador para além da narrativa linear. No caso de Hithcock, o espectador é cúmplice do diretor ao "saber mais" que os personagens, gerando uma "borra" nos supostos limites entre obra, diretor e espectador. Nolan, por sua vez, propõe tempos e narrativas diferentes e coexistentes, como no caso de Amnésia e A Origem.

2) Por meio de uma narrativa que se inspira nos policiais e em elementos do film noir, A Origem apresenta uma visão ficcional para nosso universo dos sonhos, explorando de forma criativa suas potencialidades. Tema recorrente na história do cinema, os sonhos passaram a conquistar o interesse científico em uma época em que o próprio cinema surgia e florescia na Europa. Enquanto arte capaz de criar sonhos e realidades, de que modo relacionar a realidade criada pelos filmes - e pelos sonhos - com aquela sobre a qual atua a ciência?

Na virada do século XIX para o XX, a psicanálise teve o papel importante de recuperar modernamente o interesse pelos sonhos. Digo "modernamente" pois o termo implica algumas considerações relevantes de Bruno Latour. Em outras palavras, o ônus do sonho ter sido "sitiado" pela psicologia (em um sentido geral), ficando re(l/n)egado a um aspecto representacional, ou seja, o sonho não teria tanta importância em si, apenas no que ele "quer dizer", no que "está por trás" dos sonhos. Jung deu contribuições mais interessantes, pois retomou a questão de que o sonho deve ser assimilado, a despeito de sua técnica onírica ser ainda muito interpretativa. Já as filosofias de Henri Bergson e María Zambrano me permitem conceber o estatuto de ser dos sonhos, ou para usar os termos do meu campo conceitual, uma "ontologia onírica". A partir daí, recuperam-se concepções xamânica, taoísta, budista, hermética dos sonhos, aliadas a algumas teorias mais especulativas da ciência, como a do físico Roger Penrose (que são mais interessantes e profícuas que do que se observa hoje na maioria das concepções da neurociência), compondo, assim, um campo conceitual mais complexo e consistente para se conceber os sonhos atualmente.

3) À medida que adentram as camadas de um sonho, os personagens de A Origem passam a experimentar o tempo de forma diferente, e até mesmo duvidar da existência de sua realidade "original". Tanto neste quanto em outros filmes da obra de Nolan, os personagens se defrontam com conflitos que os fazem questionar sua existência, sua realidade e seu papel no mundo. Na época atual, diante da fugacidade de um tempo vinculado ao progresso contínuo, da pressa e da aceleração do ritmo e dos fluxos da vida, como abordar a forma como experimentamos o tempo, e como criar espaço para o questionamento?


Existem várias formas: particularmente sou entusiasta de uma articulação entre, de um lado, um estudo com ambições práticas, ou seja, a utilização de conceitos radicalmente transdisciplinares (um campo conceitual que envolve a filosofia e as outras ciências humanas, além da ciência, da arte e - por que não? - da magia) na vida e não apenas como recursos de peripécias intelectuais, racionais. De outro lado, entendo ser relevante um exercício para além das imagens, para além do tempo e espaço, como a meditação, apreendida em termos bem gerais, sem especificações, mas também sem restrições religiosas. Tanto o estudo e a meditação podem nos trazer reflexões e experiências relevantes acerca do(s) tempo(s) e do atemporal. Existem, é claro, as experiências com substâncias, em que é comum experimentar dilatações e contrações do tempo, mas essas podem ter muitos efeitos colaterais incontroláveis. As experiências com substâncias que podem ser mais eticamente realizadas são aquelas inseridas em um contexto ritualístico por algum tipo de xamã. De qualquer forma, a meditação não tem (ou ao menos tem muito menos) "efeitos colaterais", sendo muito mais recomendada. Em uma clínica psicológica, a experiência com o tempo e com a vida psíquica em geral é um problema bem mais delicado, pois o que se vê na prática é uma "conquista do imaginário" dos clientes ou "pacientes" pelos terapeutas: um inconsciente mais ou menos livre que chega a um consultório, na extrema maioria dos casos, é povoado quase imediatamente por (de acordo com as "crenças" do terapeuta) complexos, arquétipos, couraças etc. Tais "crenças" ou linhas de escola clínica têm a sua própria concepção de postura em relação ao tempo. Nenhuma corrente de pensamento está livre disso: se os esquizoanalistas (partidários das ideias - que muito me interessam - de Deleuze e Guattari) criticam os psicanalistas por colocarem o Édipo em todo mundo, podemos, por outro lado, criticar muitos dos esquizoanalistas por colocarem o rizoma no mundo todo. Hoje, cada vez menos utilizo, enquanto psicólogo, o recurso do consultório (muitas vezes entendido pelo cliente mais como o locus da lamúria e menos como o da transformação) e cada vez mais utilizo o dispositivo do grupo de estudos, não no estereótipo de grupo "terapêutico", e sim no sentido de criação coletiva de conceitos radicalmente transdisciplinares e práticos. Nesse sentido, ainda sou clínico, mas minhas "ferramentas" clínicas são os conceitos práticos, mas também sou um pensador e facilitador transdisciplinar. Tais ferramentas podem permitir uma apreensão do tempo, seja em que sentido for, um tanto relevantes, até mesmo radicais. Porém, em meus sonhos mais remotos, gostaria de me pensar como "personal dreamer", mas isso é outra história ou outro sonho...

4) Contraplanos - expresse em poucas palavras (ou apenas uma) sua sensação com relação aos sentidos e problemáticas evocadas pelas seguintes palavras.

- Consciência: A dobra da mente sobre si mesma.

- Sonho e imagem: O sonho é um tipo de imagem.

- Arte e pensamento: Ontologicamente inseparáveis.

- Real: Devir.

5) Roteiros alternativos - espaço dedicado à sugestão de links, textos, vídeos, referências diversas de outros autores/pesquisadores que possam contribuir com a discussão. Para encerrar essa sessão, transcreva, se quiser, uma fala de um pensador que o inspire e/ou seu trabalho.

Já citei vários autores e campos de conhecimento na entrevista. Acrescentaria: para uma relação consistente entre a filosofia de Deleuze e a ciência, o filósofo Manuel DeLanda; para uma relação sem estereótipos e exageros "nova era" entre a filosofia e a Mecânica Quântica, o médico anestesista Stuart Hameroff e para um estudo sério da influência do Hermetismo e alquimia na obra de Isaac Newton - e, por desdobramento, na ciência em geral - a historiadora da ciência Betty Jo Teeter Dobbs.

Vou deixar aqui o link do HCTE, ou o departamento de História da Ciência, das Técnicas e Epistemologia da UFRJ, hoje coordenado pelo matemático e poeta Ricardo Kubrusly, onde fiz meu mestrado, doutorado e faço meu pós-doutorado orientado e supervisionado pelo físico Luiz Pinguelli Rosa. Lá é possível fazer um estudo consistente, ousado e transdisciplinar no Rio de Janeiro: http://www.hcte.ufrj.br/

Cito uma frase do escritor Philip K. Dick: "A teoria modifica a realidade que descreve".

6) Como conhecer mais de suas produções?

Através dos meus blogs. Tem o "Cosmos e Consciência" que tende a ser mais conceitual: www.cosmoseconsciencia.blogspot.com.br e o "Druam" que tende a ser mais ficcional: www.druam.blogspot.com.br mas ambos são, inevitavelmente, complementares.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Só o que inventamos é real


O sonho é real? A dúvida é o mínimo admissível, depois que penetramos na emocionante realidade onírica produzida no filme A Origem (Inception), de Christopher Nolan, que será apresentado pelo Ciência em Foco, dia 1 de setembro.
A projeção será acompanhada da palestra Sonhos & Ação! - o onirismo pop de Christopher Nolan, realizada por Nelson Job, psicólogo, pós-doutorando em História das Ciências, Técnicas e Epistemologia (HCTE/UFRJ). Para ele, a obra cinematográfica do cineasta britânico-americano é marcada por um raro traço, unindo um cinema autoral com uma estética blockbuster. “Desde seu Amnésia, passando pelas suas versões de Batman e culminando no espetacular A Origem, o diretor articula com inventividade peripécias heroicas com conceitos que fazem pensar”.

Em A Origem, Leonardo DiCaprio faz o papel de Dom Cobb, um ladrão especializado em extrair informações do inconsciente dos seus alvos durante o sonho. Incapaz de visitar seus filhos, Cobb tem a chance de vê-los em troca de um último trabalho: fazer uma inserção, plantar a origem de uma ideia na mente de um rival de seu cliente. O longa foi indicado a oito Oscars, incluindo Melhor Filme, vencendo em quatro categorias, Melhor Fotografia, Melhores Efeitos Visuais, Melhor Edição de Som e Melhor Mixagem de Som.

A conversa sobre o temática do filme com Nelson Job se dará a partir da filosofia de Bergson e Deleuze: “investigaremos algumas das citações explícitas e ocultas nos filmes, desdobrando os filmes de Nolan, que em sua obra, realiza com singularidade o maior esplendor do cinema: evidenciar que o sonho é real”. Participe!

A cena está posta

O que o cinema e a gastronomia têm em comum? Se à primeira vista poderíamos considerá-los como práticas inconciliáveis, restritos a suas respectivas técnicas e modos de produção, não podemos ignorar a presença da comida ao longo da história da cinema, harmonizada em cena de diferentes maneiras, por meio de abordagens, estilos e propostas que enfatizam seus múltiplos aspectos.

A gastronomia e o cinema são domínios da experiência humana que se referem, antes de tudo, aos nossos sentidos. Podemos tratá-los como formas de arte, já que se servem de nossos sentidos para extrair deles possibilidades inesperadas, surpreendentes, combinando elementos que não apenas são capazes de saciar ou confortar, mas de oferecer uma intensificada experiência do mundo. A partir de amanhã, a Caixa Cultural do Rio de Janeiro recebe a mostra Filmes à mesa, um seleto panorama das formas pelas quais a comida é representada nas mais diversas narrativas cinematográficas.

Com a curadoria de Beth Jacob e Fernanda Teixeira, a mostra dura 12 dias e reúne seus 34 títulos em grupos temáticos inspirados em um cardápio de restaurante, cada um abordando características e estilos que correspondem às distintas formas de relação do homem com o alimento. Algumas sessões serão seguidas de degustações e palestras. Veja programação completa e aproveite a irresistível sinestesia que ela oferece. Quer receita melhor para se programar ao longo destas próximas duas semanas?

A Caixa Cultural fica na Av. Almirante Barroso, 25, no Centro do Rio, próximo à estação Carioca do metrô. Maiores informações aqui, e também no telefone (21) 3980-3815. Aproveite e assista à vinheta da mostra abaixo. Boa semana a todos!

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

A escola entrincheirada

No ar, o podcast da palestra “Aprender e ensinar, exercícios de estrangeiridade”, do professor de filosofia da educação da UERJ Walter Kohan. O filme a disparar a discussão foi Entre os muros da escola, que revela os conflitos sociais, culturais e de raça dentro de uma instituição escolar na periferia de Paris. Imperdível!

Clique abaixo para ouvir a palestra Aprender e ensinar, exercícios de estrangeiridade (59min.). Ou baixe aqui o arquivo zipado (55MB).






terça-feira, 7 de agosto de 2012

O silêncio de um país inteiro


No último sábado, o Ciência em Foco exibiu o filme Corpo (2007), de Rossana Foglia e Rubens Rewald, seguido da palestra O corpo de todos nós, com a nossa convidada do mês, a doutora em psicanálise Maria Rita Kehl. Psicanalista e escritora, Rita ressaltou a força e a atualidade renovadas do filme, sobretudo tendo em vista sua integração à Comissão da Verdade, em maio deste ano. Abordando temas como o desaparecimento de pessoas na época da ditadura, Corpo projeta uma continuidade de certos procedimentos deste período da história recente na época atual. Rita Kehl focou sua análise do filme nos aspectos que caracterizam esta conexão. A partir da trajetória do personagem Arthur, cuja vida parece adquirir sentido quando passa a se importar com a busca da identidade do corpo encontrado, o filme nos envia à busca de um segredo mais terrível, cuja escala se amplia para abarcar a história recente do Brasil.

Embora a narrativa do filme esteja voltada para a resolução de um mistério envolvendo um corpo intacto encontrado entre as ossadas do período ditatorial, a ressonância que se cria é com a época atual, quando observamos uma indiferença generalizada - tanto política quanto da mídia -, com relação à violência institucional, às baixas não contabilizadas de mortes em decorrência de ações policiais, que afetam sobretudo aqueles que se encontram à margem da sociedade. São as camadas economicamente desfavorecidas da população que sofrem com esta indiferença. De acordo com Rita Kehl, a imagem do corpo intacto se apresenta como um elemento simbólico que funciona como metáfora desta situação, uma imagem que nos envia a outras formas de morte, como a da sensibilidade e a da solidariedade.

Rita Kehl se referiu a pesquisas mencionadas no livro O que resta da ditadura? [organizado por Edson Teles e Vladimir Safatle. São Paulo: Boitempo Editorial, 2010]  que apresentam não apenas o Brasil como o único país da América Latina onde os assassinos e torturadores da época não foram punidos, como também apresentam dados que mostram o país como único no qual a polícia mata mais pessoas que durante todo o período. Muitos desses mortos atuais, pela condição desfavorável de suas famílias, permanecerão no anonimato, condenados ao silêncio e cada vez mais isolados da existência. O filme dialoga com este silêncio que não é pontual, mas que pertence a um país inteiro, quando faz alusão a práticas do período da ditadura: Rita Kehl comentou, como exemplo, a cena em que uma médica legista, na época atual, pede a seu subordinado para assinar o laudo de um óbito. Quando entra em cena a transferência de responsabilidade, o filme projeta a condição dos subordinados de hoje e sua ausência de voz.

Por meio do fluxo de suas imagens, o filme parece demonstrar um imaginário social abalado por um trauma, e as tentativas de resolução de um possível enigma, associado à memória dos desaparecidos políticos. A repetição do trauma aparece como uma das diversas formas de resolução deste enigma, e por isso nos defrontamos com a repetição da violência institucional no Brasil: a repetição de uma situação de exceção na qual o Estado se posiciona contra o povo, que se configura como uma reação a um trauma anterior ligado a uma violência que não foi reparada, punida, denunciada ou elaborada. Evocando a noção de melancolia do filósofo alemão Walter Benjamin, Rita Kehl comentou a prática do personagem Arthur de fazer diagnósticos do óbito das pessoas que observa no espaço urbano. Segundo ela, o personagem produz diagnósticos de melancolia, no sentido que o termo fora abordado por Benjamin, distanciando-se de seu sentido clínico. Para Benjamin, a melancolia se associa a um sintoma social que diz respeito à indolência instalada quando uma pessoa ou um povo traem sua história, sua tradição, sua origem, para aliar-se ao cortejo dos vencedores, àqueles que se encontram em uma posição superior. Hoje, quando a posição de vencedores não é mais ocupada pelos militares da ditadura, nos encontramos diante do cortejo da mercadoria e da economia predadora.

Tivemos um movimentado debate, no qual foram reverberadas inquietações atuais sobre a política e a história, enfatizando o cuidado necessário de se marcar a diferença entre o período totalitário e o período democrático atual. Agradecemos o apoio dos diretores do filme, e também à APILRJ - Associação de Profissionais Intérpretes de Libras do Rio de Janeiro. Nossa próxima sessão acontece no dia 1º de setembro, quando exibiremos o filme A origem (Inception - E.U.A., 2011), do diretor inglês Christopher Nolan. Como convidado do mês, teremos a honra e a alegria de contar com a participação de Nelson Job, psicólogo, pós-doutorando e doutor em História das Ciências, Técnicas e Epistemologia pelo HCTE/UFRJ. Ele apresentará a palestra Sonhos & Ação! O onirismo pop de Christopher Nolan. Esperamos por vocês!