quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Entre os frágeis muros de nossas escolas


"Não suportamos as escolas – sobretudo os que trabalhamos dentro delas! –, mas não conseguimos viver sem elas", Walter Kohan, Doutor em filosofia e professor da UERJ.

1) O filme Entre os muros da escola apresenta situações e embates que têm lugar no espaço fechado da sala de aula, como sugere o próprio título. Alguns críticos ressaltam até mesmo a neutralidade da câmera, capaz de incorporar aspectos disciplinares ao retratar este espaço e sua realidade, sugerindo comparações com o espaço vigiado da prisão. Em relação ao aprender, haveria maneiras de se contornar a solidez destes muros?


A questão dos muros é interessante. Num sentido, nossas sociedades comemoram a derrubada de alguns muros, físicos, como o de Berlim e simbólicos, como o dito, por exemplo, a respeito do ingresso da população negra à universidade brasileira. Em outros sentidos, porém, levantam-se muros de todo tipo em nome da segurança, privacidade, individualidade... Há um discurso duplo sobre os muros. A escola e a sala de aula em particular são lugares entre muros e há todo um discurso na retórica educacional que afirma a necessidade de superar esses muros, de levar a aula para espaços abertos, luminosos... Eu desconfio um pouco dessa retórica... Uma escola sem muros não é uma escola, pelo menos não uma escola moderna própria das sociedades como as nossas... Uma escola sem muros é uma ficção... Eu diria que mais interessante é a questão de como nos relacionamos com os muros, o que fazemos deles, para que os colocamos a trabalhar...

2) Bastante acolhido pela crítica, o filme Entre os muros da escola ganhou até mesmo a concorrida Palma de Ouro no Festival de Cannes. Seja como tema, personagem ou cenário, a escola está presente em diversos filmes. Como pensar o fascínio e a insistência dos múltiplos olhares sobre a escola? Por outro lado, haveria uma dimensão pedagógica na experiência de se assistir a um filme?



A escola é uma fixação para nossas sociedades. Sabemos de seu fracasso que constitui ao mesmo tempo seu sucesso. Não suportamos as escolas – sobretudo os que trabalhamos dentro delas! –, mas não conseguimos viver sem elas. Uma sociedade sem escolas, a utopia do genial Ivan Illich [filósofo austríaco (1926 - 2002) que criticava a institucionalização da educação propondo, no lugar de escolas, teias de aprendizagem que favoreceriam a autonomia e a liberdade do sujeito, aproximando o ensino da vida e das relações sociais], é impensável para nós. De modo que todo bom filme sobre a escola tem sucesso garantido... Sobre a segunda parte da pergunta, as relações entre cinema e educação são complexas. Temos por um lado a utilização pedagógica dos filmes, o que pode matar sua arte, como toda utilização pedagógica. Mas por outro lado, o cinema, como toda arte, pode ter impacto pedagógico. Podemos aprender muito assistindo a um filme. O problema é quando queremos que os filmes ensinem o que nós temos aprendido com eles, porque a experiência estética é uma e insubstituível e ninguém pode dizer o que o outro vai aprender com qualquer filme. De modo que, sim, o cinema é, num sentido, pedagogia, e da mais interessante, por gerar aprendizagens sem a pretensão de ensinar.

3) Em certa passagem do filme, o professor e os alunos comentam sobre um diálogo de Platão, evocando a figura de Sócrates, que valorizava uma relação com o saber condicionada pela ignorância e o questionamento constante. Tendo em vista o cenário da sala de aula e os próprios diálogos favorecidos por este ambiente, como pensar o papel do professor diante das ambiguidades que ele carrega, em meio às relações de poder que atuam no jogo do aprender e ensinar?

Sócrates é uma figura inspiradora para qualquer professor. É um mito, um impossível, um enigma, alguém que gera aprendizagens sem ensinar, alguém que vive uma vida insuportável para o estado de coisas e que, por isso, foi condenado. Alguém que não tem método e que sabe a única coisa que um professor hoje não poderia saber: que não sabe. De modo que Sócrates é inspirador para pensar o papel do professor como alguém que se preocupa mais que o outro desaprenda o que pensa que sabe e não que aprenda qualquer saber positivo que o professor já sabe. Claro que a questão do exercício do poder não é fácil e Sócrates não é justamente alguém que se caracteriza por afirmar relações de poder horizontais, como pareceria desejável, com seus interlocutores.

4) Contraplanos - expresse em poucas palavras (ou apenas uma) sua sensação com relação aos sentidos e problemáticas evocadas pelas seguintes palavras:


cinema – arte, beleza, experiência, sensibilidade, utopia
estrangeiro – diferença, outridade, hospitalidade
instituição – o que somos
a escola hoje – uma tortura, um desafio
aprender – para poder ser de outra maneira


5) Roteiros alternativos - espaço dedicado à sugestão de links, textos, vídeos, referências diversas de outros autores/pesquisadores que possam contribuir com a discussão. Para encerrar essa sessão, transcreva, se quiser, uma fala de um pensador que o inspire e/ou seu trabalho.

“É preciso que lhes ensine que nada tenho a lhes ensinar”
(J. Rancière. O mestre ignorante. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.)

6) Como conhecer mais de suas produções?

Penso que atualmente basta colocar meu nome no google e devem aparecer coisas...



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