quarta-feira, 25 de julho de 2012

Corpo, o “presente do passado”



Dia 4 de agosto, às 16h, o Ciência em Foco apresenta o filme Corpo (Brasil, 2007), acompanhado de um instigante debate com Maria Rita Kehl, psicanalista, escritora e integrante da Comissão da Verdade (constituída pelo governo federal com a finalidade de investigar e narrar violações dos direitos humanos ocorridas no Brasil durante o período de 1946 a 1988).

Há uma frase de um cientista brasileiro que diz que “o primeiro passo para a descoberta científica é ver o que todos estão vendo e pensar o que ninguém pensou”. No trabalho de identificação da causa mortis no IML, acontece algo mais que a rotina da ciência a serviço da lei instituída. Sob as lentes dos diretores Rubens Rewald e Rossana Foglia, um fato inusitado suscita pensar para além do que todos veem: entender como morreu a mulher cujo corpo estava intato entre os ossos encontrados em uma vala comum onde os torturadores despejaram suas vítimas. Para Rita Kehl, uma “imagem espantosa criada pelos diretores do filme para se referir aos fantasmas da história esquecida”.

Não se trata, portanto, de uma descoberta “científica”, mas de um desvendar da história sufocada, suprimida da memória, através de um corpo que se recusa a morrer. Como diz Kehl, um corpo que vem “a assombrar a vida dos vivos, a interrogar os indiferentes e impedir que o esquecimento se estabeleça como única versão possível dos crimes do passado”.

Considerado um dos melhores filmes lançados em 2008, Corpo conta com a participação de Rejane Arruda, Chris Couto, Louise Cardoso e Leonardo Medeiros. A entrada é franca. Esperamos por você!

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Entre os espaços e as imagens


O cinema é uma arte que possui como uma de suas características principais o fato de ser reprodutível. Especialmente no cenário atual, em que as tecnologias e as ferramentas de edição e difusão de filmes se encontram disseminadas e acessíveis, uma multiplicação de imagens e leituras do mundo acabam se confundindo com o real, projetando sobre ele seus sonhos e anseios. Multiplicados os focos produtores, também são multiplicados os suportes e espaços nos quais assistimos aos filmes.

Filmes sempre são exibidos e assistidos em um determinado espaço e local - seja uma sala de cinema de uma cidade grande, um auditório, uma praça do interior, um quarto ou uma sala de estar. No entanto, são raros os momentos em que se pensa, a partir do cinema, questões envolvendo a nossa relação com o espaço e a cidade, sua organização e seus aspectos políticos. Se olharmos de perto (ou com uma distância adequada), veremos que o cinema e a arquitetura possuem preocupações e métodos em comum. Um exemplo deste diálogo acontecerá nesta quinta-feira, dia 19/07, na Casa da Ciência da UFRJ, com o Colóquio Cinema & Arquitetura, da PET-ECO da UFRJ, com a curadoria de Michelle Sales e Maria Flor Brasil. 

Serão exibidos três filmes que suscitam, de modo diverso, reflexões sobre arquitetura e cinema, produzindo um espaço-tempo privilegiado para o pensamento. A sessão se inicia às 16h com a exibição de longa-metragem HU (Brasil, 2011), de Pedro Urano e Joana Traub Csekö, documentário que coloca em cena as contradições evocadas pelo prédio do Hospital Universitário da UFRJ. Às 17h30, serão exibidos dois curtas ligados ao grupo português de cinema e arquitetura Ruptura Luminosa: Sizígia (Portugal, 2012) e A casa do lado (Portugal, 2012), ambos dirigidos por Luís Urbano. Após as sessões, às 18h, acontecerá uma conversa com os realizadores dos filmes, e também com Sergio Fernandez e Ana Resende, integrantes do grupo Ruptura Silenciosa. A entrada é franca e a inscrição dá direito a certificado de participação.






sexta-feira, 13 de julho de 2012

A ciência nas margens da ética



No último sábado, o Ciência em Foco exibiu o filme O informante (The insider - E.U.A., 1999), de Michael Mann, seguido da palestra do professor do Instituto de Medicina Social da UERJ, Kenneth Camargo. Baseado na trajetória real do cientista Jeffrey Wigand, o filme serviu de provocação para suscitar uma conversa sobre as distorções pelas quais passa o conhecimento científico no mundo atual, enfatizando suas relações com o mercado e os interesses privados. Sua abordagem se baseia em uma determinada concepção de ciência que recusa a ideia de que a atividade científica se dedica a descobrir e desvendar coisas que sempre existiram ou sempre estiveram lá, aguardando para ser descobertas.

Trata-se de entender a ciência como atividade humana. Quando se percebe a ciência desta forma, somos levados a entender que ela está sujeita a todas as características e elementos próprios à experiência humana, afastada da objetividade e da neutralidade. Nesta perspectiva,  quando a atividade científica é analisada de perto, a imagem do cientista isolado e abnegado não se sustenta. Kenneth procurou compatibilizar esta crítica à ciência com a interferência direcionada à produção científica, promovida por empresas e organizações, que movimentam interesses particulares e nada éticos.

Kenneth evocou uma referência incontornável para se pensar a atividade científica, o filósofo francês Bruno Latour. Para o filósofo, houve um crescente desenvolvimento de um arsenal teórico-metodológico voltado à crítica da ciência, no sentido de proteger a sociedade da excessiva confiança em determinados argumentos ideológicos que se disfarçam de fatos, se passando por algo "científico".  Porém, estas mesmas ferramentas seriam posteriormentes utilizadas por setores que desejam gerar desconfiança na opinião pública, a partir daquilo que é, de fato, científico. A confusão seria gerada a partir do intuito deliberado de distorcer os fatos. Salientando o surgimento da área de relações públicas, Kenneth marcou a atuação do setor como uma estratégia de gerar credibilidade a partir da entrada em cena de uma terceira pessoa no jogo dos argumentos. Como exemplo de frentes de controle a estas estratégias, foi mostrada a iniciativa de jornalistas que mantêm um site de acompanhamento de fontes para mostrar as manipulações que acontecem nos bastidores da ciência. As informações divulgadas pelo personagem do filme, por exemplo, hoje estão disseminadas em sites que veiculam e monitoram estas manipulações.

Pela análise dos documentos específicos da indústria do tabaco, é possível verificar que a indústria financiou uma série de estudos com o objetivo de criar confusão em torno de pesquisas epidemiológicas sobre o prejuízo à saúde causado por seus produtos. Mais assustador é o fato de a indústria do tabaco também recorrer às ciências humanas, financiando cientistas sociais e filósofos para produzirem argumentos em favor da ideia da liberdade de fumar. Financiando cientistas e profissionais para criarem confusões em torno de evidências para as quais não existem controvérsias, a indústria também utiliza artigos plantados em revistas respeitadas que vão servir de material para estratégias de relações públicas em seu favor: como afirma um dos personagens do filme, somos lançados ao mundo de Alice no País nas Maravilhas. Para não concluir deixando uma visão totalmente negativa e corrompida da ciência, Kenneth reafirmou a necessidade de constantemente rever e criticar a produção científica, para que ela continue valendo como nossa melhor aposta.

Nossa próxima sessão acontece no dia 4 de agosto de 2012, com a exibição do filme Corpo (Brasil - 2007), de Rossana Foglia e Rubens Rewald. Teremos a honra e alegria de receber, como convidada do mês, a escritora e psicanalista Maria Rita Kehl, doutora em Psicanálise pela PUC-SP e integrante da Comissão da Verdade, com a palestra O corpo de todos nós. Ela publicou, dentre outros livros, O tempo e o cão, vencedor do Prêmio Jabuti. Imperdível é pouco! Acompanhem nosso blog para maiores informações e sigam a @casadaciencia no Twitter. Anotem na agenda, compartilhem e divulguem! Até a próxima.