quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Quando os tempos se embaralham

Conheça um pouco mais sobre o convidado do Ciência em Foco de 6 de novembro, Paulo Vaz, e sua palestra “Habitações do tempo: a passagem da cultura moderna à contemporânea”.

1) Você sempre gostou de cinema? Por que falar a partir dele?

Desde criança adoro cinema. Gosto de falar da ficção de modo geral, de como as pessoas conseguem imaginar o mundo, pôr em crítica o seu tempo, as suas crenças. Quando eu era adolescente, comecei a gostar de filosofia pela literatura.

2) Você gosta de ficção-científica? No seu entender, por que este gênero é tão instigante para o pensamento?

Faz-se um exercício de simulação: isolam-se certas variáveis, definem-se algumas constantes e imagina-se como o mundo será. Tem-se uma visão do tempo descontinuísta. Quando alguém imagina o futuro, está pensando sobre o presente.


3) O que caracteriza, na sua visão, a experiência de tempo da nossa sociedade - com a disseminação das novas tecnologias da informação -, em comparação com o tempo profundo dos processos geológicos e do mundo natural?

Um dos modos de se diferenciar a cultura é diferenciar o modo como se habita o tempo. Na cultura moderna, o passado limita o presente e o constitui em sua possibilidade de abertura. O presente se via constrangido pelo passado. Hoje, o futuro aparece como catástrofe a ser adiada, o que significa que as ações no presente são orientadas por antecipações de futuro, que pode limitar o presente ao futuro antecipado, que é na verdade sobre o que o filme trata. Hoje há uma aceleração das mudanças geradas pelas tecnologias da informação. Ao colocar o homem no tempo profundo, diante de uma realidade desmesurada, talvez se possa orientar melhor essas mudanças, já que desta forma nos perceberíamos como fazendo parte do cosmos em vez de tudo fazer para conseguir acompanhar as mudanças e dominar as tecnologias da informação.

4) Partindo deste contraste, de que modo a intuição do romance de Philip K. Dick - que inspirou o filme -, de uma possível antevisão do futuro, se coloca como interessante para pensarmos a história, a cultura e a atualidade?

O modo como a nossa cultura lida com a violência, com o crime, com o terrorismo é cada vez mais pautada pela ideia de risco. Nos EUA, desenvolveram-se técnicas em que a pessoa não é tolhida pelo que fez ou pelo que é, mas pelo que pode vir a fazer: pune-se pelo risco. Esse argumento de punir pelo risco, de punir quem é perigoso é o argumento da prisão de Guantánamo. As pessoas podem ficar presas pelo resto da vida pelo que podem vir a fazer. Mas em nome de evitar o sofrimento, provocam-se outros sofrimentos.


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