quarta-feira, 27 de abril de 2011

Lygia por Lygia

Está em cartaz na Cinemateca Brasileira uma mostra de filmes em homenagem à escritora Lygia Fagundes Telles, que esse mês completa 88 anos. Os títulos foram selecionados por ela; outros, inspirados ou adaptados de suas obras. Saiba mais aqui!

Homenagem à Lygia Fagundes Telles
De 26 de abril a 15 de maio
Largo Senador Raul Cardoso, 207, próximo ao Metrô Vila Mariana
R$ 8 (inteira); R$ 4 (meia)
(11) 3512-6111 (ramal 215)




terça-feira, 26 de abril de 2011

Henrique Antoun, de carne e película

Em conversa com o professor de Comunicação da ECO/UFRJ e pesquisador do CiberIDEA, Henrique Antoun, próximo palestrante do Ciência em Foco, o filme Cidade dos sonhos foi ponto de partida para uma instigante reflexão sobre a arte:





“Uma das principais características da arte é dotar o universo material que a constitui de uma intensa sensibilidade, fazendo com que, muitas vezes, nós nos surpreendamos com aquilo e acreditemos que aquele material foi tocado pela vida. A conversa que quero ter é para pensar esse toque de vida que a arte pode ter, mesmo nas coisas mais inanimadas”.

1) Fale um pouco de sua formação e de sua relação com o cinema.

Me formei em design. Na época da faculdade, andava com uma garotada ligada ao cinema, via muito filme, gostava muito de cinema, tinha uma relação com Torquato Neto, andava com o pessoal que fazia a revista CineOlho. Tinha uma ligação boa com o cinema, via muito filme, muita nouvelle vague, muito filme europeu, fora do esquemão Hollywood. Depois da faculdade, comecei a dar aula muito cedo na PUC, no design. Nesse período, reencontrei o cineasta André Faria, e ele ia lançar Prata Palomares. Sempre tive muito interesse pelo cinema de autor, de criação, de pensamento.


2) O filme Cidade dos sonhos pode ser lido, entre muitas outras possíveis leituras, como um pesadelo ligado ao mundo da indústria cinematográfica de Hollywood - entendido, ao reverso, como uma fábrica de sonhos. Sem entregar muito de sua fala, de que forma Lynch nos permite, neste filme, uma abertura para pensarmos a mídia?


O filme faz parte de uma trilogia, que começa com A estrada perdida (Lost highway – E.U.A., 1997) e termina com Império dos sonhos (Inland Empire – E.U.A., 2009), e é uma longa reflexão sobre a relação última e violenta que o cinema estabelece com a televisão após os anos sessenta, momento em que Hollywood vai ser comprada pelas grandes mídias de televisão. Até então, os filmes eram filmes em que “nada acontecia”, não eram cheios de ação, surpreendentes. Hollywood começa se reerguer com Coppola, Scorsese, Spielberg, cineastas que, a princípio, são marginais. Os filmes que vão fazer sucesso são filmes que a princípios não se acredita que vão fazer sucesso. As grandes empresas de comunicação remodelam os estúdios nos anos 70. Esse cenário se assemelha ao das personagens no início de Cidade dos sonhos: duas moças virgens, sem violência, que faziam teste para um filme de juventude. O cineasta, no filme, tem um ar de cineasta europeu e está sempre sob pressão do estúdio porque ele não quer aceitar a atriz. Cidade dos sonhos oscila entre filme noir e filme de juventude e faz uma paródia de Hollywood: fala-se do domínio que a TV tem sobre Hollywood e que começa quando esses dois projetos colidem. Nos anos 70, Hollywood passa a ser um apêndice da TV e se dedica a fazer séries de sucesso, que passam a dominar a produção. Guerra nas estrelas, o Poderoso Chefão, Indiana Jones fazem Hollywood voltar com toda força, mas isso é tudo muito diferente do que se fazia até os anos 60. A partir daí, a indústria cinematográfica se salvou se casando com a TV, mas perdendo possibilidades que ela procurou desenvolver nos anos 60: os filmes cabeça, em que o filme pensa e as pessoas pensam junto. Em Cidade dos sonhos, portanto, acontece uma retomada analítica de tudo o que está acontecendo com o cinema. Há duas figuras emblemáticas: o mendigo que domina a caixa azul (que poderia ser pensada como a televisão), que é a grande massa marginalizada, que se exprime nas exigências de grandes números, impedindo que as histórias possam ser contadas de maneira adulta, dominando a programação, e também a chorona de Buenos Aires, que diz que “aqui não tem nada”, tudo é falso, tudo é simulacro. É como Hollywood: nada é feito ali, tudo é apropriado, tomado. Hollywood sobrevive do que é feito em outro lugar do mundo. É como se a TV tivesse matado esse antigo projeto e ele sobrevivesse: ele é um cadáver morto, escondido em algum quarto. A miséria guarda o segredo da caixa azul e domina também pelo segredo do simulacro.






3) Lynch produz filmes intensos, que costumam chacoalhar as expectativas atreladas às narrativas tradicionais, amarradas a seus nós centrais. É possível dizer que o pensamento "em rede", evocado por Cidade dos Sonhos, promove uma potencialização da experiência artística? Seria David Lynch um cineasta hipertextual?


Penso que ali tem um elemento em rede importante, que ultrapassa a própria história que o cinema está contando. É como se o filme fosse profundamente afetado por aquilo que se passa nele, pela história que está narrando, que é algo vivo. Esse me parece ser um elemento que faz a diferença em todo esse movimento de análise. É como se o cinema reagisse intensamente a tudo o que se passa nele. É como se ele não tivesse outra opção senão reagir contra isso que termina com sua morte. Não existem mais cinema de diretor, nem historinhas açucaradas honestas, histórias realistas honestas, mas aquele diagnóstico da morte se mostra enganoso. É como se a película se tornasse uma carne, um material vivo, que não é indiferente ao que lhe toca. Diferentemente do fogo, da terra, do ar, a carne é totalmente afetada por aquilo que lhe atravessa. É como se o filme fosse uma película dotada de uma carne.

4) Na exposição Sensações do Passado Geológico da Terra, atualmente em cartaz na Casa da Ciência da UFRJ, existe um módulo dedicado a representar o momento presente de nosso planeta, cujo tempo é marcado pela dependência crescente das tecnologias de comunicação e seus mundos virtuais. Levando em conta os espaços reais e virtuais pelos quais transitam os personagens enredados na trama Cidade dos sonhos, e a provocação trazida por este módulo da exposição, seria possível pensar uma ética deste tempo presente, a partir de uma reconfiguração da sociedade trazida por estes espaços de sonho (ou pesadelo)?


O problema é menos o sonho e mais o sono. Se a gente vive num planeta como se ele não fosse nosso, como se fosse um sonho de outro alguém e nos deixamos levar pela indiferença, se estamos aqui provisoriamente, o pesadelo não tem solução. Atua-se sobre o planeta nessa tentativa de extrair o máximo de futuro no presente, na forma de exploração. Vive-se como se o planeta estivesse morto e ele fosse indiferente a tudo isso. Finge-se que não se habita o planeta. Se o sonho não for um mero modo de obter um mero lucro, será possível construir alguma coisa.

5) Como conhecer mais de suas produções?




Quem quiser entrar em contato comigo, deixo meu email: hantoun@gmail.com Trabalho na Comunicação (ECO/UFRJ) desenvolvendo pesquisas sobre as tecnologias, a cultura e a subjetividade do mundo contemporâneo.




Dia 7 de maio, esperamos por você!




segunda-feira, 25 de abril de 2011

O cinema brasileiro do século XXI

O feriado acabou e já nesta terça-feira, dia 26 de abril, a programação envolvendo filmes e debates está a todo vapor. Terá início a mostra Cinema Brasileiro Anos 2000: 10 Questões, no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro, que segue até o dia 8 de maio.

Serão exibidos mais de 50 filmes brasileiros desta primeira década do século XXI, perfazendo uma amostra substancial do período de 2001 a 2010. A mostra também promoverá 10 debates temáticos que se dedicam a pensar os rumos e o amadurecimento da produção nacional a partir de questões desdobradas das linhas traçadas por esta multifacetada produção do período. A mostra será uma festa para todos aqueles que curtem o cinema e procuram entendê-lo em suas diversas expressões.

As sessões acontecem nos cinemas I e II do CCBB-RJ, que fica na rua Primeiro de Março, 66, no Centro. Maiores informações podem ser obtidas pelo telefone (21) 3808-2020, e detalhes sobre a mostra podem ser encontrados no completíssimo site do evento. Boa programação!

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Cinema de carne e película




“A vida é muito, muito confusa. E os filmes deveriam ser realizados assim também”. A frase de David Lynch é um convite para o encontro de 7 de maio do Ciência em Foco, em que será exibido o atordoante Cidade dos sonhos (EUA, 2001). Na trama, um acidente de carro é ponto de partida para uma complexa rede de acontecimentos, que serão retomados na voz do professor de Comunicação da UFRJ Henrique Antoun, com a palestra “A carne da rede: multidão e mídia livre”. O palestrante vai abordar como em Cidade dos sonhos, o filme parece ser profundamente afetado por aquilo que se passa nele, pela história que está narrando, que é algo vivo. Participe!



terça-feira, 19 de abril de 2011

Filme e debate sobre mudanças climáticas


Como parte das atividades da exposição Sensações do Passado Geológico da Terra, em cartaz na Casa da Ciência da UFRJ, será apresentada a mostra Ver Ciência em Debate, dia 27 de abril, às 18h.

Será exibido o programa da BBC Estamos mudando nosso planeta? da série Caos Climático, que alerta sobre os efeitos das mudanças climáticas no planeta, com destaque para as interferências da humanidade nesse cenário. Em seguida, o diretor da COPPE/UFRJ, Luiz Pinguelli Rosa, apresenta a palestra Mudanças Climáticas.

Aproveite para conhecer a exposição e vivenciar os grandes eventos de transformação do nosso planeta. A entrada é franca.



segunda-feira, 18 de abril de 2011

O melhor de 2010

Até o final do mês, o mais antigo festival de cinema da cidade de São Paulo, o Festival SESC Melhores Filmes, traz uma seleção de filmes com o que de melhor passou pela cidade no ano passado. Os preços são populares. Confiram a programação!




quinta-feira, 7 de abril de 2011

Muitas atrações no 16º FBCU


Atenção, universitários: já estão abertas as inscrições para o 16º Festival Brasileiro de Cinema Universitário, que acontece entre os dias 27 de julho e 7 de agosto de 2011, no Rio de Janeiro, e entre 8 e 14 de agosto de 2011, em São Paulo.


Os destaques são a Mostra Competitiva Nacional e a Mostra Competitiva Internacional, que permitem que universitários brasileiros e estrangeiros exibam seus trabalhos produzidos em qualquer formato.


O FBCU também apresenta a Mostra Informativa de Curtas, a Mostra Homenagem, Sessões Especiais, Oficina de Roteiros do Projeto Sal Grosso, Oficina O Fim do Cinema, Oficina de Captação e Finalização em Digital, Oficina de Composição Audiovisual, Encontro Internacional dos Estudantes de Cinema, Debates e o Projeto Sal Grosso.


Inscreva-se agora!





segunda-feira, 4 de abril de 2011

Antonioni e as interpretações da realidade

Neste último sábado, o professor do Departamento de Filosofia da UFF, Patrick Pessoa, doutor em Filosofia pela UFRJ, conversou com o público do Ciência em Foco após a projeção do filme Blow-up (1966), de Michelangelo Antonioni, baseado no conto As babas do diabo, de Julio Cortázar. Patrick instigou a plateia ao propôr uma reflexão que parte do filme - uma interpretação cinematográfica do conto - para problematizar os modos a partir dos quais percebemos a realidade.

Situando sua metodologia, o professor afirmou ser necessário marcar que não se trata, em sua análise, de uma ilustração de conceitos filosóficos que serviriam de explicação ao filme. Para ele - inspirado por autores que abordaram filosoficamente a literatura -, o que singulariza a abordagem filosófica de um filme não é a projeção sobre ele de temas filosóficos, mas sim a busca de sentidos a partir da própria obra, já que toda interpretação filosófica de uma obra de arte deveria ser, simultaneamente, uma filosofia da interpretação.

O próprio filme é uma tradução, uma interpretação, de um conto. Ao traduzir o conto em cinema, Antonioni nos incita a pensar, a partir das imagens, sobre o próprio problema da percepção da realidade, e que esta implica sempre uma interpretação. A questão central do protagonista - um fotógrafo -, estaria voltada para a tradução de uma imagem em um sentido, assemelhando-se a um filósofo que busca a verdade.

Curiosamente, a fotografia, enquanto técnica que se pretende objetiva, deveria mostrar a verdade das coisas, mas o protagonista começa a ficar obsessivo ao fazer sucessivas ampliações das fotos (os blow-ups), deparando-se apenas com diversas interpretações possíveis, no lugar da verdade objetiva dos fatos. Portanto, a questão se transforma: não se trata mais de buscar uma verdade por trás das aparências, mas entender o modo pelo qual são construídas as diferentes interpretações da realidade. Neste cenário, o que importa, uma vez afastadas as garantias, é a força do desejo cuja potência atua não mais se reportando à objetividade.

Em breve disponibilizaremos o áudio da palestra. Em nosso próximo encontro, dia 7 de maio, exibiremos o filme Cidade dos sonhos (Mulholland Drive - E.U.A., 2001), de David Lynch, seguido da palestra A carne da rede: multidão e mídia livre, proferida por nosso convidado Henrique Antoun, professor do Programa de Pós-Graduação da ECO/UFRJ, doutor em Comunicação também pela ECO e pós-doutor pela Univ. de Toronto, Canadá. Antoun é pesquisador do Grupo CiberIDEA - Núcleo de pesquisa em tecnologia, cultura e subjetividade. Marque na agenda, e até lá!

sexta-feira, 1 de abril de 2011

É amanhã!


Caros blogueiros e cineclubistas,


amanhã, às 16h, é dia de filme e palestra no Ciência em Foco! Tragam amigos, primos, tios, irmãos, sobrinhos, namorados, filhos (maiores de 16 anos) e quem mais vocês quiserem para participar do evento com a gente. Blow-up é o filme da vez. Logo depois da exibição, o doutor em filosofia Patrick Pessoa apresenta a palestra A tarefa do tradutor segundo o Cortázar de Antonioni.


Esperamos vocês para mais uma proveitosa tarde de sábado!


P.S. não é mentira.