Situando sua metodologia, o professor afirmou ser necessário marcar que não se trata, em sua análise, de uma ilustração de conceitos filosóficos que serviriam de explicação ao filme. Para ele - inspirado por autores que abordaram filosoficamente a literatura -, o que singulariza a abordagem filosófica de um filme não é a projeção sobre ele de temas filosóficos, mas sim a busca de sentidos a partir da própria obra, já que toda interpretação filosófica de uma obra de arte deveria ser, simultaneamente, uma filosofia da interpretação.
O próprio filme é uma tradução, uma interpretação, de um conto. Ao traduzir o conto em cinema, Antonioni nos incita a pensar, a partir das imagens, sobre o próprio problema da percepção da realidade, e que esta implica sempre uma interpretação. A questão central do protagonista - um fotógrafo -, estaria voltada para a tradução de uma imagem em um sentido, assemelhando-se a um filósofo que busca a verdade.
Curiosamente, a fotografia, enquanto técnica que se pretende objetiva, deveria mostrar a verdade das coisas, mas o protagonista começa a ficar obsessivo ao fazer sucessivas ampliações das fotos (os blow-ups), deparando-se apenas com diversas interpretações possíveis, no lugar da verdade objetiva dos fatos. Portanto, a questão se transforma: não se trata mais de buscar uma verdade por trás das aparências, mas entender o modo pelo qual são construídas as diferentes interpretações da realidade. Neste cenário, o que importa, uma vez afastadas as garantias, é a força do desejo cuja potência atua não mais se reportando à objetividade.
Em breve disponibilizaremos o áudio da palestra. Em nosso próximo encontro, dia 7 de maio, exibiremos o filme Cidade dos sonhos (Mulholland Drive - E.U.A., 2001), de David Lynch, seguido da palestra A carne da rede: multidão e mídia livre, proferida por nosso convidado Henrique Antoun, professor do Programa de Pós-Graduação da ECO/UFRJ, doutor em Comunicação também pela ECO e pós-doutor pela Univ. de Toronto, Canadá. Antoun é pesquisador do Grupo CiberIDEA - Núcleo de pesquisa em tecnologia, cultura e subjetividade. Marque na agenda, e até lá!
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