terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Verdades (quase nada) verdadeiras

Olá, pessoal! Confiram o podcast da palestra “Alegar que cigarros não viciam requer provas”, do professor do HCTE, da UFRJ, Ivan da Costa Marques, a partir da exibição de Obrigado por fumar. Participem de uma intrigante discussão sobre o conhecimento científico, divulgado como um acervo de verdades universais e neutras!


Clique abaixo para ouvir a palestra Alegar que cigarros
não viciam requer provas
(83min.). Ou baixe aqui o arquivo zipado (79MB).






quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Entre os frágeis muros de nossas escolas


"Não suportamos as escolas – sobretudo os que trabalhamos dentro delas! –, mas não conseguimos viver sem elas", Walter Kohan, Doutor em filosofia e professor da UERJ.

1) O filme Entre os muros da escola apresenta situações e embates que têm lugar no espaço fechado da sala de aula, como sugere o próprio título. Alguns críticos ressaltam até mesmo a neutralidade da câmera, capaz de incorporar aspectos disciplinares ao retratar este espaço e sua realidade, sugerindo comparações com o espaço vigiado da prisão. Em relação ao aprender, haveria maneiras de se contornar a solidez destes muros?


A questão dos muros é interessante. Num sentido, nossas sociedades comemoram a derrubada de alguns muros, físicos, como o de Berlim e simbólicos, como o dito, por exemplo, a respeito do ingresso da população negra à universidade brasileira. Em outros sentidos, porém, levantam-se muros de todo tipo em nome da segurança, privacidade, individualidade... Há um discurso duplo sobre os muros. A escola e a sala de aula em particular são lugares entre muros e há todo um discurso na retórica educacional que afirma a necessidade de superar esses muros, de levar a aula para espaços abertos, luminosos... Eu desconfio um pouco dessa retórica... Uma escola sem muros não é uma escola, pelo menos não uma escola moderna própria das sociedades como as nossas... Uma escola sem muros é uma ficção... Eu diria que mais interessante é a questão de como nos relacionamos com os muros, o que fazemos deles, para que os colocamos a trabalhar...

2) Bastante acolhido pela crítica, o filme Entre os muros da escola ganhou até mesmo a concorrida Palma de Ouro no Festival de Cannes. Seja como tema, personagem ou cenário, a escola está presente em diversos filmes. Como pensar o fascínio e a insistência dos múltiplos olhares sobre a escola? Por outro lado, haveria uma dimensão pedagógica na experiência de se assistir a um filme?



A escola é uma fixação para nossas sociedades. Sabemos de seu fracasso que constitui ao mesmo tempo seu sucesso. Não suportamos as escolas – sobretudo os que trabalhamos dentro delas! –, mas não conseguimos viver sem elas. Uma sociedade sem escolas, a utopia do genial Ivan Illich [filósofo austríaco (1926 - 2002) que criticava a institucionalização da educação propondo, no lugar de escolas, teias de aprendizagem que favoreceriam a autonomia e a liberdade do sujeito, aproximando o ensino da vida e das relações sociais], é impensável para nós. De modo que todo bom filme sobre a escola tem sucesso garantido... Sobre a segunda parte da pergunta, as relações entre cinema e educação são complexas. Temos por um lado a utilização pedagógica dos filmes, o que pode matar sua arte, como toda utilização pedagógica. Mas por outro lado, o cinema, como toda arte, pode ter impacto pedagógico. Podemos aprender muito assistindo a um filme. O problema é quando queremos que os filmes ensinem o que nós temos aprendido com eles, porque a experiência estética é uma e insubstituível e ninguém pode dizer o que o outro vai aprender com qualquer filme. De modo que, sim, o cinema é, num sentido, pedagogia, e da mais interessante, por gerar aprendizagens sem a pretensão de ensinar.

3) Em certa passagem do filme, o professor e os alunos comentam sobre um diálogo de Platão, evocando a figura de Sócrates, que valorizava uma relação com o saber condicionada pela ignorância e o questionamento constante. Tendo em vista o cenário da sala de aula e os próprios diálogos favorecidos por este ambiente, como pensar o papel do professor diante das ambiguidades que ele carrega, em meio às relações de poder que atuam no jogo do aprender e ensinar?

Sócrates é uma figura inspiradora para qualquer professor. É um mito, um impossível, um enigma, alguém que gera aprendizagens sem ensinar, alguém que vive uma vida insuportável para o estado de coisas e que, por isso, foi condenado. Alguém que não tem método e que sabe a única coisa que um professor hoje não poderia saber: que não sabe. De modo que Sócrates é inspirador para pensar o papel do professor como alguém que se preocupa mais que o outro desaprenda o que pensa que sabe e não que aprenda qualquer saber positivo que o professor já sabe. Claro que a questão do exercício do poder não é fácil e Sócrates não é justamente alguém que se caracteriza por afirmar relações de poder horizontais, como pareceria desejável, com seus interlocutores.

4) Contraplanos - expresse em poucas palavras (ou apenas uma) sua sensação com relação aos sentidos e problemáticas evocadas pelas seguintes palavras:


cinema – arte, beleza, experiência, sensibilidade, utopia
estrangeiro – diferença, outridade, hospitalidade
instituição – o que somos
a escola hoje – uma tortura, um desafio
aprender – para poder ser de outra maneira


5) Roteiros alternativos - espaço dedicado à sugestão de links, textos, vídeos, referências diversas de outros autores/pesquisadores que possam contribuir com a discussão. Para encerrar essa sessão, transcreva, se quiser, uma fala de um pensador que o inspire e/ou seu trabalho.

“É preciso que lhes ensine que nada tenho a lhes ensinar”
(J. Rancière. O mestre ignorante. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.)

6) Como conhecer mais de suas produções?

Penso que atualmente basta colocar meu nome no google e devem aparecer coisas...



sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Um olhar atento sobre os muros da escola



Ficção ou documentário? Uma indagação sem resposta para Entre os muros da escola (Entre les murs), grande vencedor da Palma de Ouro em Cannes (2008) e filme de estreia, neste ano, do Ciência em Foco, dia 3 de março, às 16h. O professor de filosofia da educação da UERJ Walter Kohan, convidado do cineclube, discutirá o filme após sua exibição.

Dirigido por Laurent Cantet, o filme reúne, de forma indissociável, a realidade a toda sua contingência dramática, a começar pelo fato de que o professor François Bégaudau é autor do livro que deu origem ao roteiro (também escrito por ele), interpretando a si mesmo nas telas. E assim também ocorre com todo o elenco, formado por estudantes reais, usando seus nomes verdadeiros: o “personagem” não é uma representação, mas a expressão legítima de suas próprias histórias.

Esta dimensão vivencial do filme, que revela os conflitos sociais, culturais e de raça dentro de uma instituição escolar na periferia de Paris, permite ao espectador inteirar-se deste complexo entrechoque de existências.

Kohan acredita que a partir de Entre os Muros da Escola seja possível “pensar algumas perguntas em torno das relações entre os que ocupam o lugar de ensinar na escola e os que estão lá, a princípio, para aprender. No filme, um e outros parecem estrangeiros, não apenas em relação a um lugar, mas em relação recíproca, à instituição e aos significados usualmente atribuídos ao aprender e ensinar”. Por esta razão, sua palestra “Aprender e ensinar, exercícios de estrangeiridade” será uma boa oportunidade para conversarmos sobre esta temática tão presente nos dias atuais.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Hugo Cabret e a mecânica dos sonhos de Scorsese


Nesta sexta-feira, dia 17/02, estreia o filme que lidera as indicações ao Oscar 2012: A invenção de Hugo Cabret (Hugo, 2011). O mais recente trabalho de Martin Scorsese - um dos maiores diretores vivos dos E.U.A. - surpreende justamente por aquilo que não faz questão de explicitar em sua publicidade.

Narrado como um conto de fadas, tendo a Paris da primeira metade do século XX como cenário, acompanhamos a jornada de Hugo Cabret, um órfão responsável clandestinamente pela manutenção dos gigantescos relógios de uma estação de trem. Filho de um relojoeiro que o havia mostrado, antes de morrer, um misterioso autômato com defeito, Hugo parte em busca de respostas para os mistérios guardados pelo estranho robô.

O que vem a seguir é uma surpreendente viagem pelos processos e os efeitos da mecânica de sonhos do cinema, capitaneada pelas lentes de Scorsese, que pela primeira vez utiliza - nada gratuitamente - o recurso 3D. A experiência de cada um seria diminuída caso contássemos algo a mais. Todos aqueles que se interessam por pensar as relações entre o cinema, o universo das artes e do espetáculo com a ciência e a cultura, devem no mínimo se interessar bastante pelo filme - se não saírem maravilhados.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Curta no Botequim abre o carnaval na tela de cinema

Tem início a semana que antecede o carnaval e já se pode comemorar em plena segunda-feira! Quem convoca à folia é o Cineclube Curta no Botequim, que acontece no Cine Botequim, o criativo estabelecimento boêmio que mistura a cultura de botequim do Rio de Janeiro com o universo do cinema, unindo assim duas paixões dos cariocas. Fazendo uso do espaço informal do botequim, o cineclube é um ponto de encontro de exibição de filmes e debates, focado na produção de novos realizadores.

Quem já frequenta o estabelecimento sabe que o bar promove diariamente sessões duplas temáticas, e o projeto Curta no Botequim ocupa o espaço todo segundo sábado do mês. Porém, o cineclube entrou no clima do carnaval e vai realizar hoje, dia 13/02, a partir as 19h, uma edição somente com curtas que evocam a festa. Serão exibidos os filmes Minha rainha (2008), de Cecília Amado, Jorjão (2004), de Paulo Tiefenthaler, e o recente Bloco dos barbas (2012), de Ricardo de Moraes, que narra a história do tradicional bloco carioca.

Um programa capaz de agradar igualmente foliões e aqueles que curtem a folia somente na tela. O Cine Botequim fica na rua Conselheiro Saraiva 39, no Centro, próximo à Praça Mauá. Visite o site do projeto Curta no Botequim e conheça melhor o projeto. Boa diversão!

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Ambiguidades da imagem

Olá, pessoal! Preparem-se para mais um podcast do cineclube temporada 2011. A palestra da vez, com o doutor em semiótica Karl Erik Schollhammer, “O olhar embarcado - tendências de documentarismo ficcional no cinema de guerra atual”, aconteceu a partir da exibição de Guerra sem cortes. Inspirado no assassinato de uma menina iraquiana de 14 anos por quatro soldados norte-americanos, cria-se uma montagem ficcional de filmagens aparentemente documentais. Boa diversão!

Clique abaixo para ouvir a palestra O olhar embarcado - tendências de documentarismo ficcional no cinema de guerra atual (71min.). Ou baixe aqui o arquivo zipado (67MB).






sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Brasil aos olhos do outro

Com o verão e a proximidade do Carnaval, época em que o país recebe muitos turistas, são reforçados certos clichês em torno da identidade e dos costumes dos brasileiros. A imagem formada, muitas vezes distorcida ou redutora, contribui para a formação dos estereótipos a partir dos quais se multiplica e solidifica a imagem nacional no exterior.

Nos últimos anos, o Brasil tem aparecido com certa frequência em diversas grandes produções de cinema internacionais, especialmente de Hollywood. A indicação ao Oscar da canção do filme Rio (2011), favorita ao prêmio, talvez indique a consagração da atenção no Brasil dos olhos estrangeiros. Entretanto, esta presença do Brasil nas produções estrangeiras não é apenas um fenômeno recente. O tema foi discutido no filme Olhar estrangeiro (2006), de Lucia Murat, baseado no livro O Brasil dos gringos, de Tunico Amâncio.

Os cinéfilos de São Paulo, assim como interessados no tema em geral, podem conferir o filme hoje, sexta-feira, dia 03/02, em Sorocaba, como parte do projeto do cineclube CineCafé, uma parceria entre o SESC Sorocaba e a Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo. No filme, Lucia Murat percorreu diversas cidades entrevistando diretores, atores e roteiristas, investigando os processos que atuam na formação da imagem do Brasil, apresentando também trechos de várias obras cinematográficas estrangeiras.

Após a exibição, a própria diretora conversará com o público presente em um bate-papo. A sessão começa às 19h e acontece na Oficina Cultural Grande Otelo (Praça Frei Baraúna, s/n - Centro), em Sorocaba, SP. A entrada é franca. Acesse o caderno de programação de fevereiro do SESC Sorocaba, para mais informações e também outras dicas culturais. Bom filme!