quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Abrindo as cortinas

Esse mês o blog está trazendo uma novidade: a partir de agora vamos conhecer um pouco mais de perto os palestrantes do evento, através de bate-bolas, pequenos vídeos e áudios. Para a edição de setembro, preparamos uma rápida entrevista com o convidado do mês, o professor do Departamento de Filosofia da UERJ, James Arêas, que falou, entre outras coisas, sobre o fio condutor de sua futura palestra e da importância dos cineclubes.

1) Fale um pouco sobre a sua formação e o seu interesse pelo cinema.

Minha formação é toda ela em Filosofia, inicialmente na UFRJ (Graduação) e posteriormente PUC-Rio (Mestrado e Doutorado). Meu interesse pelo cinema surgiu quando, ainda criança, era levado até lá por meu pai, com muita frequência. Assistíamos praticamente a tudo que a idade permitia e, algumas vezes, até mesmo sem que fosse permitido. Meu pai era amigo do gerente e isso facilitava para os filmes de censura para 14 anos.

2) Como você definiria a cinematografia de David Lynch?

David Lynch é um grande criador, um dos maiores artistas de nosso tempo. Ele pratica uma semiótica toda especial, por vezes assustadora, sedutora, violenta, magnífica. Suas intervenções no tempo são extraordinárias, seus mundos são purgatórios capazes de expor pulsões aterradoras, mas também os mais sensuais e belos afetos. Cinema de devires, arte grandiosa.


3) Por que pensar o cinema de Lynch a partir de Deleuze?

Gilles Deleuze foi o primeiro filósofo a pensar com o cinema e não sobre o cinema. Seus dois volumes: Cinema 1: A imagem-movimento e Cinema 2: A imagem-tempo promovem, a partir de uma repotencialização das obras de Bergson, Peirce, etc, um verdadeiro encontro com as imagens cinematográficas. Sua obra se desdobra no sentido de uma semiótica das forças que se compõem com o pensamento, que nos forçam a pensar. Com as artes nos deparamos com signos poderosos que nos arrastam da linguaguem (literatura) para a imagem (pintura, cinema), da imagem ao pensamento.

4) Como a conjugação das ideias desses dois pensadores através do filme "Veludo Azul" faz falar sobre o mundo presente?

Veludo Azul é uma obra genial, vulcânica e afetuosa. Nos faz penetrar no mistério de um estranho mundo que é também o nosso próprio mundo, assustador e belo, irredimível e promessa de felicidade. Um filme que torna sensível a percepção do tempo que pulsa, se conserva e passa. Entre Deleuze e Lynch abre-se uma zona de interferência atualíssima que corresponde a esse momento em que o pensamento volta a ser o que ele é. Como diria Godard: "perigoso para o pensador, transformador do real", já que o ato criador é um excedente, "uma saturação de signos magníficos, imersos na luz, com sua ausência de explicação".

5) Na sua opinião, qual a importância dos cineclubes?

Os cineclubes têm hoje uma função distinta daquela que souberam ocupar no passado diante de nossos pesadelos políticos, mas creio que ainda guardam o essencial: resistir ao presente, conservando o que interessa e despertando o interesse por conservar o que resiste.

6) O que acha de propostas de cineclube como a do Ciência em Foco? Conhecia o blog? Como você avalia a importância de ferramentas como essa (blog) para a divulgação do cinema e de produções em torno dele?

Excepcional, brilhante. Uma iniciativa louvável sob todos os aspectos, com as exibições e as conversas que a excelente seleção dos filmes pode suscitar. Conhecia e visitava o blog Ciência em Foco. Cabe a todos nós educadores, cientistas, artistas e pensadores divulgá-lo. Os "blogs" adquiriram em nossos dias uma eficácia e confiabilidade maior do que os meios tradicionais de comunicação. Para a divulgação do cinema, creio ser fundamental, se considerarmos que o cinema é parte das lutas contemporâneas em um universo de "imagens entre imagens" onde proliferam clichês de todo tipo.

7) Como conhecer mais das suas produções?

No momento estou trabalhando para confecção de um pequeno livro e me preparando para um Pós-Doutorado. Em meus cursos de Pós na UERJ estou inteiramente à disposição dos interessados.

Um comentário:

  1. Parabéns ao blog Cineclube Ciência em Foco. E quero agradecer a oportunidade que tive de assistir algumas aulas da Pós Graduação ministradas pelo professor James, na UERJ.
    Espero que o professor James possa nos privilegiar com sua presença aqui na Filosofia da UFF. Talvez, um seminário sobre John Cassavetes, Deleuze e a sociedade. São somente pitacos inventivos.
    Uma abraço à todos e todas.

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