segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Bem-vindos ao nosso mundo estranho

Neste primeiro sábado de setembro, o Ciência em Foco adentrou o mundo estranho de David Lynch, com a exibição de Veludo azul (Blue velvet - E.U.A., 1986), seguida da fala do professor do Departamento de Filosofia da UERJ, James Arêas. Ele conversou com o público sobre elementos da obra de Lynch, destacando o modo específico do cineasta de escapar das convenções narrativas.

Analisando o filme de Lynch a partir de conceitos do filósofo Gilles Deleuze, James mostrou que as aparentes oposições e contrastes que o filme coloca em embate - como a luminosidade e a opacidade, o bem e o mal, a ordem e o caos, o racional e o irracional -, estariam em cena como expressões que remetem a um único e mesmo mundo.

De acordo com ele, os aspectos estranhos presentes no filme forçam o espectador a pensar por meio da desarticulação que operam na organização e nos aspectos previsíveis do nosso próprio mundo. Esta seria sua potência filosófica. O mundo organizado - aquele no qual o tempo é mensurado e que acredita possuir estabilidade - é confrontado por signos que colocam em questão a predominância da ordem racional das coisas.

Tal qual a cidade de Lumberton, do filme, em relação à floresta que a rodeia, o mundo organizado - o nosso mundo - é na verdade derivado de um mundo originário onde as coisas existem sem a ordenação humana: um mundo em que o tempo pulsa, imprevisível, e que nos faz questionar nossa condição.

No nosso próximo encontro, dia 2 de outubro, exibiremos Rabid (Canadá, 1977), de David Cronenberg. Após a exibição, receberemos a médica e psicanalista Lilian Krakowski Chazan, doutora em Saúde Coletiva pelo Instituto de Medicina Social da UERJ, com a palestra Uma visão irônica e apocalíptica dos experimentos científicos. Até lá!


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