
Homenagem à Lygia Fagundes Telles
De 26 de abril a 15 de maio
Largo Senador Raul Cardoso, 207, próximo ao Metrô Vila Mariana
R$ 8 (inteira); R$ 4 (meia)
(11) 3512-6111 (ramal 215)
Em conversa com o professor de Comunicação da ECO/UFRJ e pesquisador do CiberIDEA, Henrique Antoun, próximo palestrante do Ciência em Foco, o filme Cidade dos sonhos foi ponto de partida para uma instigante reflexão sobre a arte:
Me formei em design. Na época da faculdade, andava com uma garotada ligada ao cinema, via muito filme, gostava muito de cinema, tinha uma relação com Torquato Neto, andava com o pessoal que fazia a revista CineOlho. Tinha uma ligação boa com o cinema, via muito filme, muita nouvelle vague, muito filme europeu, fora do esquemão Hollywood. Depois da faculdade, comecei a dar aula muito cedo na PUC, no design. Nesse período, reencontrei o cineasta André Faria, e ele ia lançar Prata Palomares. Sempre tive muito interesse pelo cinema de autor, de criação, de pensamento.
O filme faz parte de uma trilogia, que começa com A estrada perdida (Lost highway – E.U.A., 1997) e termina com Império dos sonhos (Inland Empire – E.U.A., 2009), e é uma longa reflexão sobre a relação última e violenta que o cinema estabelece com a televisão após os anos sessenta, momento em que Hollywood vai ser comprada pelas grandes mídias de televisão. Até então, os filmes eram filmes em que “nada acontecia”, não eram cheios de ação, surpreendentes. Hollywood começa se reerguer com Coppola, Scorsese, Spielberg, cineastas que, a princípio, são marginais. Os filmes que vão fazer sucesso são filmes que a princípios não se acredita que vão fazer sucesso. As grandes empresas de comunicação remodelam os estúdios nos anos 70. Esse cenário se assemelha ao das personagens no início de Cidade dos sonhos: duas moças virgens, sem violência, que faziam teste para um filme de juventude. O cineasta, no filme, tem um ar de cineasta europeu e está sempre sob pressão do estúdio porque ele não quer aceitar a atriz. Cidade dos sonhos oscila entre filme noir e filme de juventude e faz uma paródia de Hollywood: fala-se do domínio que a TV tem sobre Hollywood e que começa quando esses dois projetos colidem. Nos anos 70, Hollywood passa a ser um apêndice da TV e se dedica a fazer séries de sucesso, que passam a dominar a produção. Guerra nas estrelas, o Poderoso Chefão, Indiana Jones fazem Hollywood voltar com toda força, mas isso é tudo muito diferente do que se fazia até os anos 60. A partir daí, a indústria cinematográfica se salvou se casando com a TV, mas perdendo possibilidades que ela procurou desenvolver nos anos 60: os filmes cabeça, em que o filme pensa e as pessoas pensam junto. Em Cidade dos sonhos, portanto, acontece uma retomada analítica de tudo o que está acontecendo com o cinema. Há duas figuras emblemáticas: o mendigo que domina a caixa azul (que poderia ser pensada como a televisão), que é a grande massa marginalizada, que se exprime nas exigências de grandes números, impedindo que as histórias possam ser contadas de maneira adulta, dominando a programação, e também a chorona de Buenos Aires, que diz que “aqui não tem nada”, tudo é falso, tudo é simulacro. É como Hollywood: nada é feito ali, tudo é apropriado, tomado. Hollywood sobrevive do que é feito em outro lugar do mundo. É como se a TV tivesse matado esse antigo projeto e ele sobrevivesse: ele é um cadáver morto, escondido em algum quarto. A miséria guarda o segredo da caixa azul e domina também pelo segredo do simulacro.
Quem quiser entrar em contato comigo, deixo meu email: hantoun@gmail.com Trabalho na Comunicação (ECO/UFRJ) desenvolvendo pesquisas sobre as tecnologias, a cultura e a subjetividade do mundo contemporâneo.
Dia 7 de maio, esperamos por você!