De onde surgiu o interesse de pesquisa na relação entre cinema e filosofia? O que existe de comum em ambos os domínios?
Minhas pesquisas sobre as relações entre filosofia e cinema, na verdade, encontram-se no bojo de estudos mais amplos que versam acerca das relações entre arte e pensamento, nas quais a zona de contaminação entre filosofia e cinema possui papel preponderante. Isso tanto é verdade que, no momento, trabalho mais com literatura (Scott Fitzgerald) e artes visuais (Hélio Oiticica) do que cinema propriamente dito.
Claro que o cinema, como matriz dos processos de realização audiovisuais continuam, e muito, me interessando. Haja vista que um de meus vértices de pesquisa é a obra performática e visual de Matthew Barney, artista estadunidense que trabalha em uma rica zona de fronteira entre as artes visuais, a performance e a vídeo-arte. Elaborando sua prática artística no espaço que se convencionou chamar de cinema expandido.
Sobre a segunda parte de sua pergunta, sobre o que há comum entre cinema e filosofia, diria apenas que encontramos em ambos formas de pensamento. Enquanto um cineasta pensa por intermédio de imagens, o filósofo nos apresenta conceitos como seu instrumento de pensar.Você escreveu o livro Deleuze e o Cinema. O fato de o filósofo Gilles Deleuze (1925-1995) ter criado uma obra que dialoga com as artes e a ciência poderia dizer algo a respeito do papel do filósofo?
Desde Deleuze e seu projeto de investigação filosófica sobre as imagens do cinema, não foi mais possível pensar os filmes da mesma maneira. Desde então, somente foi possível falar, analisar criticamente os filmes levando em conta as considerações e os conceitos deleuzianos acerca das imagens cinematográficas. O trabalho de GD foi determinante para o que aqui denominamos de constituição de uma nova teoria da imagem. A importância desta nova teoria da imagem constituída, principalmente, nos dois livros – Cinema1: A imagem-movimento (1980) e Cinema2: A imagem-tempo (1985) - que GD dedicou ao audiovisual pode, a nosso ver, ser destacada a partir de três pontos fundamentais.
Em primeiro lugar, no plano especificamente teórico, isto é, sua presença nos bancos universitários, na fortuna crítica dos professores e pesquisadores do audiovisual brasileiro, seu impacto nas dissertações e teses acadêmicas dos programas de pós-graduação. Em segundo lugar, na mídia de divulgação e nos cursos livres não universitários, versando sobre arte em geral, cinema e audiovisual em particular. E, enfim, em terceiro lugar, na produção de nossos realizadores, sejam eles jovens postulantes a cineastas ou em diretores com obra já consagrada.
Por outro lado, não diria propriamente que a obra filosófica deleuziana dialogaria com as artes e as ciências, em especial as primeiras, pois entendo que isto enfraqueceria o projeto filosófico do pensador francês. O que ocorre é mais radical que isso: as outras formas de produção de pensamento destacadas por GD, além da própria filosofia – as artes e as ciências – são, justamente, o que fazem a filosofia, o filosofar e os filósofos, hoje, saírem de sua imobilidade. Dito de outro modo, o não filosófico (a arte e a ciência) é constitutivo no projeto filosófico deleuziano.
Seria possível pensar em uma certa popularização ativa destes domínios, a partir de sua obra?
Creio que a filosofia e muito menos o cinema precisaram de Deleuze para “retomar” algum tipo de popularidade, que, em meu entender, jamais perderam. Talvez a maior contribuição deleuziana seja realmente no campo conceitual filosófico, pois estamos com GD no plano de uma radical construção de conceitos, que, a despeito de serem rigorosamente filosóficos, estão imanentemente articulados às artes, em especial, por ele analisadas.
Godard completa 80 anos no dia 3 de dezembro, e este ano ele lançou seu mais novo filme, 'Film socialisme', exibido no Festival do Rio. De que modo ele consegue, através das imagens, ser tão inovador ainda hoje?
Godard, em meu entender, é, de fato, o primeiro cineasta. Não o primeiro em sentido cronológico evidentemente, mas aquele que primeiramente levou o cinema à sua maior radicalidade. Ele é, simultaneamente, o último grande cineasta moderno e o primeiro realizador cinematográfico contemporâneo. Ele está para o cinema como Nietzsche está para a filosofia e Marcel Duchamp está para as artes visuais. Desenvolverei melhor essa ideia, que é, na verdade, uma hipótese teórica, em minha fala no cineclube do Ciência em Foco, à guisa de conversarmos sobre os oitenta anos de JLG, partindo da exibição de seu Alphaville.
Você frequenta ou já frequentou, como palestrante ou espectador, algum outro cineclube? Como você avalia a importância deles?
Aliás, minha formação de cinéfilo e estudioso do cinema se deu inicialmente na frequentação de cineclubes. Em primeiro lugar, em cineclubes escolares, ainda no antigo segundo grau – hoje Ensino Médio – em Niterói. Tenho total apreço por ver filmes coletivamente e conversar sobre eles. Acredito que seja um espaço de formação coletiva e comum do que é propriamente o cinema. A propósito, acabei de chegar da Universidade Federal do Rio Grande do Norte/UFRN, advindo de uma participação de um Evento mensal, realizado por seu Programa de Pós-graduação em Filosofia, intitulado CINESOPHIA, no qual falei após a exibição de A erva do rato, o mais recente filme de Júlio Bressane.
Como conhecer mais das suas produções?
Bem, meus textos que articulam cinema e filosofia, além de meu livro Deleuze e o Cinema (Editora Ciência Moderna), estão dispersos por livros organizados, por artigos para periódicos de artes filosofia, comunicação e educação e ensaios publicados em algumas revistas como a FILME CULTURA do MinC. Penso em algum momento eu mesmo fazer um Blog, quem sabe?
Olá,este email do Jorge está errado,não?Existe ymail ?
ResponderExcluirOlá Bianca. Existe sim, é do Yahoo.
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