A sessão de outubro do Ciência em Foco apresentou o filme
Imagens da prisão (Gefängnisbilder - Alemanha, 2000), de Harun Farocki, seguido da palestra
Técnicas e estéticas da vigilância: corpo, imagem e máquina,
ministrada por Fernanda Bruno, professora do PPGCOM e do Instituto de
Psicologia da UFRJ. O filme de Farocki serviu como ponto de partida
para uma conversa bastante atual em torno das tecnologias de
vigilância e o uso político das imagens. No filme, o diretor
recupera imagens de arquivo associadas à dinâmica de controle de
várias instituições, como as prisões, as escolas, os asilos
manicomiais, e produz uma montagem que as articula com cenas
resgatadas da história do cinema. O resultado, à primeira vista
estranho – já que as imagens institucionais não são feitas para
serem contempladas esteticamente –, vai aos poucos se mostrando
como uma potente forma de discutir o poder das imagens e também
promover um olhar crítico sobre elas. Com este método, Farocki traça uma pequena história da
vigilância, desde as sociedades modernas e disciplinares e chegando
até o mundo contemporâneo – desde a arquitetura das prisões,
passando pela chegada das câmeras de vigilância até os atuais
softwares de monitoramento dos espaços, que hoje invadem a vida
cotidiana nas grandes cidades. Fernanda comentou aspectos destas
tecnologias de controle e suas estratégias de disciplinarização
dos sujeitos. Desdobrando sua análise para além do filme, Fernanda
apontou outras tecnologias associadas à vigilância, agora no espaço
informacional da internet. As ferramentas de busca e redes sociais
dependem cada vez mais do rastreamento das informações pessoais que
os usuários fornecem em sua navegação.
Após um extenso mapeamento de diversas tecnologias de vigilância
e monitoramento, Fernanda comentou a particularidade dos smartphones,
que possuem câmera e acesso à internet. Na medida em que permitem
uma contra-visualidade, os smartphones são ferramentas que podem
atuar como uma espécie de resistência às tecnologias de controle,
oferecendo uma contra-vigilância. Foram citados os exemplos dos
protestos políticos que ocorreram em escala mundial desde 2010, até
os recentes acontecimentos na cidade do Rio de Janeiro. A imensa
circulação de imagens promovida pelos milhares de indivíduos, com
uma lógica distribuída, não hierárquica, produz uma paisagem audiovisual articulada a uma nova espécie
de arquivo, uma nova cena imagética, não mais restrita às grandes
corporações ou instituições que tradicionalmente detêm a
produção de imagens.
A dinâmica da circulação das
imagens pode, em situações de conflito como as recentes, oferecer
uma resistência ao aparato de vigilância que historicamente
penetrou no cotidiano. Foi o caso, por exemplo, da contra-vigilância
com relação à polícia, quando manifestantes filmam a ação
policial em protestos, e o produto da filmagem é utilizado para
desmentir versões oficiais dos fatos. De acordo com Fernanda, temos
hoje um outro tipo de observador, um observador distribuído, com uma
dinâmica descentralizada que desafia os sistemas hierarquizados de
visão e os discursos das instituições convencionais. Desde as
provocações trazidas pelas imagens colocadas em relação por Farocki, pode-se entrever e pensar um
cenário contemporâneo que embaralha e confunde a paisagem
convencional da vigilância, na qual havia uma separação mais
definida entre os vigilantes e os vigiados. Fiquem ligados: em breve a palestra estará online na íntegra em nosso Videocast.
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