O que salta aos olhos na história da filosofia é que a busca de sentido da vida ou para a vida em geral encontra ‘solução’ em hipóteses transcendentes, como se o sentido da vida, que é vivida e experimentada na imanência da vida singular, no mundo sensível, se localizasse ou fora dele, ou numa verdade essencial que o guiasse, André Martins, filósofo e psicanalista, doutor em filosofia pela Université de Nice e em Teoria Psicanalítica pela UFRJ, professor da UFRJ e palestrante do Ciência em Foco de setembro.
1) Por que pensar com o cinema?
A arte em geral força a pensar, porque nos afeta intensamente, sendo assim um fator de mudança psíquica, de transformação. Enquanto um entretenimento diverte, nos tirando da rotina, mas não nos força a pensar, a arte, para receptores minimamente sensíveis, consegue, pela emoção, não uma catarse, mas uma transformação. Afinal, todo pensamento inevitavelmente se inicia na experiência sensória, ou seja, numa experiência estética.
O cinema, em particular, tem recursos de imaginação e de identificação intensos, com um potencial de nos afetar, nos tocando e nos levando a uma transformação de maneira ainda mais forte, unindo história, som, imagem, recursos de enquadramento, de narrativa, de cores, fotografia, música etc. Um envolvimento sensório complexo e, portanto, com um potencial afetivo de grande intensidade.
2) Vários pensadores problematizaram a busca pelo sentido da vida. Podemos dizer que é uma das questões fundamentais que movem, por excelência, a investigação filosófica. No entanto, ao longo da história do pensamento ocidental, diversas foram as formas elaboradas para se entender o conhecimento e a relação do homem com o mundo, ora incorporando ou ora distanciando-o de suas paixões e afetos. Quais seriam algumas das implicâncias históricas destas formas de se entender a vida, e sua influência em nossa cultura?
O que salta aos olhos na história da filosofia é que a busca de sentido da vida ou para a vida em geral encontra ‘solução’ em hipóteses transcendentes, como se o sentido da vida, que é vivida e experimentada na imanência da vida singular, no mundo sensível, se localizasse ou fora dele, ou numa verdade essencial que o guiasse. Em outras palavras, buscou-se sempre uma teleologia, causas finais para a vida ou para a existência. Em contraponto, experimentou-se um forte niilismo, um sentido de vazio, de falta de sentido.
Um dos pontos fortes do filme Um lugar na plateia é que o sentido da vida, de uma maneira extremamente próxima do que Nietzsche propõe em sua filosofia, está na própria experimentação estética da vida, não como um dandy mas ao contrário, por pessoas singulares que buscam fazer o que gostam e mesmo dentro daquilo que gostam buscam uma realização que nunca se dá de uma vez por todas, mas como uma vida que se deixa guiar por nosso instinto mais forte, por aquilo que nos move, nos faz sentir vivos, pulsando, nos expressando.
3) No filme Um lugar na plateia, percebemos um retrato particular e atual das relações humanas em um grande centro urbano. Seus vários personagens buscam um sentido para suas vidas. No entanto, como pensar esta busca diante das dificuldades e dos possíveis obstáculos que podem levar ao ressentimento e à resignação?
Então, eu não diria que eles buscam um sentido para a vida. Eles já estão vivendo o sentido de suas vidas, o que infelizmente não é o caso de muitos, ou mesmo da maioria das pessoas, em geral. O que eles estão experimentando é o desejo de sempre expressarem o que para eles faz sentido, os move, os leva adiante, exatamente o que Nietzsche tenta descrever como o instinto mais forte. São personagens incríveis que não têm moralismos, que não são guiados por causas externas, que entendem que o valor da vida não está em valores padronizados, oferecidos pela sociedade como causas externas de desejo. Não há nenhum personagem niilista, todos trabalham no que gostam, não são puristas, e as questões que enfrentam são questões da própria vida, quando lidamos bem com ela. São todos autênticos e leves em seus dramas existenciais. Por isso é um filme muito forte, que me emociona a cada vez que o revejo. É um filme que trata de um tema essencial da existência humana individual e coletiva.
4) Embora as imagens, em sua qualidade sensível, tenham sido por muito tempo relegadas a um domínio inferior no âmbito do pensamento filosófico, o advento do cinema ajudou a reposicionar sua potência quando associa a imaginação ao tempo, ao instante que passa, e os afetos que é capaz de produzir. Neste sentido, de que modo seria hoje possível articular os aspectos comuns entre a criação artística e a filosófica?
Perfeito, hoje uma filosofia não mais ingênua, e também que não incorra na ilusão do tecnicismo filosófico, entende que a filosofia é sempre resolução de problemas existenciais e estéticos. Sempre, direta ou indiretamente. Podemos afirmar com segurança que a criação filosófica é uma criação artística, que o filósofo é um artista, e que todo público da filosofia, como todo público da arte, ao se deixar afetar e modificar pelo pensamento que é suscitado, desencadeado pelo contato com a arte – incluindo aí a filosofia, seja um livro ou uma aula – está revivendo a experiência da criação artística, em seu sentido mais singular e, portanto, político, fazendo a experiência de um pertencimento singular e não submetido à vida e à coletividade humana em geral e social em particular.
5) Contraplanos - expresse em poucas palavras (ou apenas uma) sua sensação com relação aos sentidos e problemáticas evocadas pelas seguintes palavras: imanência; transcendência; ética.
imanência: experiência estética da vida;
transcendência: idealização em geral defensiva;
transcendência: idealização em geral defensiva;
ética: compreensão dos afetos, de si e do outro.
6) Roteiros alternativos - espaço dedicado à sugestão de links, textos, vídeos, referências diversas de outros autores/pesquisadores que possam contribuir com a discussão. Para encerrar essa sessão, transcreva, se quiser, uma fala de um pensador que o inspire e/ou seu trabalho.
Filmes: Paris (2008) de Cédric Klapisch, com Juliette Binoche; O destino (1997) de Youssef Chahine.
Livro: de André Martins, Pulsão de morte? Por uma clínica psicanalítica da potência (Ed.UFRJ, 2009).
Pensadores: Spinoza, Nietzsche, Winnicott.
7) Como conhecer mais de suas produções?
Meu site está em construção, e deve ser lançado em dezembro de 2013, no endereço: www.andremartins.inf.br Nele, reunirei meus artigos, vídeos, entrevistas, agenda, etc. O site de meu grupo de pesquisa, SPIN, também precisa de algumas atualizações: www.gr-spin.org.br
6) Roteiros alternativos - espaço dedicado à sugestão de links, textos, vídeos, referências diversas de outros autores/pesquisadores que possam contribuir com a discussão. Para encerrar essa sessão, transcreva, se quiser, uma fala de um pensador que o inspire e/ou seu trabalho.
Filmes: Paris (2008) de Cédric Klapisch, com Juliette Binoche; O destino (1997) de Youssef Chahine.
Livro: de André Martins, Pulsão de morte? Por uma clínica psicanalítica da potência (Ed.UFRJ, 2009).
Pensadores: Spinoza, Nietzsche, Winnicott.
7) Como conhecer mais de suas produções?
Meu site está em construção, e deve ser lançado em dezembro de 2013, no endereço: www.andremartins.inf.br Nele, reunirei meus artigos, vídeos, entrevistas, agenda, etc. O site de meu grupo de pesquisa, SPIN, também precisa de algumas atualizações: www.gr-spin.org.br
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